sábado, 18 de julho de 2020

Soneto da ocultação

Não confie ninguém no que eu escrevo.
Não pense, quem me ler, achar em mim
Algo que tenha início, meio e fim
E que em alguém desperte algum enlevo.

Sei que não deveria ser assim,
Que sempre ajo do jeito que não devo,
Que minto no que escrevo, e não reescrevo,
Que digo sempre não em vez de sim.

Se alguém com meus volteios se encantar,
É mais do que eu me atrevo a desejar,
É um prêmio imerecido e inesperado.

O que procuro com essas confissões
É ocultar-me sob tantas negações
Que outro parece ter arquitetado.

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