terça-feira, 9 de novembro de 2010

A gaveta (14) - Carta

Ah, minha mãe, minha mãe! Teu filho
Não é industrial
Nem comerciante
Nem poeta
Nem nada

E qualquer coisa eu sei que te serviria, minha mãe,
Sobretudo poeta,
Que era o que eu queria, e o que eu queria
Sempre te foi especial.

Como hei de te dizer, minha mãe,
Que escrever coisas bonitas como gostas
Não é ser poeta? Como?
Dirias que eu sou modesto,
Que a modéstia é uma virtude,
E eu não sou modesto não, minha mãe,
A não ser por minha condição,
Por não poder ser mais que modesto
Quem não pode ser mais que modesto.

Minha mãe, as coisas se complicaram.
O consolo que sempre consolava
Não resolve,
Nem acredito como antes
Que tudo passa.

Minha mãe, teu filho está inconsolavelmente triste,
Teu filho está perdido, minha mãe.

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