sábado, 18 de setembro de 2010

Lírica (708) - A única

Na juventude, impelido por uma vocação ou talvez só pela fatalidade, sonhou, com ímpetos de botânico e de poeta, em cultivar uma rosa tão singularmente única que pudesse ser proclamada a rainha de todas, a rosa das rosas. Nesse projeto consumiu seu vigor, e tudo teria sido inútil se, já no fim da vida, não houvesse sido premiado com a irrupção, no seu jardim, de uma rosa tão ímpar, como ele desejara, e tão cobiçada, que ele se obrigou a ser seu guardião, para protegê-la do vento e de mãos alheias. Passando os dias e as noites ao lado da rosa, seu júbilo se transformou em tormento e ele, olhando as outras rosas e as flores mais modestas do jardim, perguntou-se por que não se contentara com elas, que poderiam ter lhe proporcionado alegrias mais miúdas, porém bem menos aflitivas.

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