sábado, 2 de outubro de 2010
Lírica (812) - De smoking
Não fui maltratado quando criança. Não me beliscaram, não me puseram de castigo, não me bolinaram no escuro. Sou triste por vontade e vocação. Vocês, que se deleitam com o riso, sei que têm sempre uma boa razão para desatá-lo quando me veem passar todo empertigado com a minha melancolia. Pena que vocês não possam me dar, como retribuição, ao menos um pouco da tristeza que vivo buscando. Não, vocês não podem dar-me isso. Os risos de zombaria não me machucam mais. Habituei-me a eles e, assim que dobro a esquina, só me arrependo de não ter vestido melhor minha tristeza, talvez com uma gravata borboleta, ou com um monóculo, ou com um smoking, para que vocês pudessem se empanturrar com essa felicidade, se é isso que lhes apraz.
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