sábado, 9 de outubro de 2010
Lírica (907) - O ponto
O caminho foi se estreitando. Furtiva, a noite desceu e o burburinho cessou, como se ele houvesse entrado em outra dimensão. Pensou que estivesse dentro de um sonho e concentrou-se para sair dele, ou mudar o rumo dos seus passos, para voltar à luz, mas seus pés se recusaram. Poderia parar, talvez, e foi o que tentou, mas suas pernas continuaram andando na direção do caminho que agora, tendo-se estreitado inteiramente, era um ponto só, um ponto no qual ele ficou entalado, como um pássaro numa chaminé. Buscou o ar, mas não havia ar, e a última imagem que teve foi a de um homem de avental verde olhando para ele mais resignado que aflito.
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