segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Lírica (1.142) - Transformação
Num carnaval longínquo, bem longínquo, dancei num baile com uma garota. Gostei dela, ela pareceu gostar de mim e, no final, na porta do clube, teríamos talvez marcado um encontro, se as suas acompanhantes não a tivessem levado embora, entre risadinhas. No dia seguinte, não me lembrava do rosto dela, mas, porque ela havia sido arrebatada de mim, eu o reconstituí com uma beleza tão única que a minha perda me afligiu por muito tempo e me aflige, ainda, quando a memória, ou um sonho, me traz de volta aquela noite e aquele baile. Não gostaria de reencontrá-la hoje (pois o tempo é cruel) nem, por uma dessa artimanhas de ficção científica, tornar a vê-la exatamente como naquele distante carnaval. Nesses anos todos, a memória enternecida e os sonhos foram engendrando um rosto cujo esplendor cegaria e mataria até o imortal deus que com suas quentes lágrimas criou a primeira de todas as belezas do mundo.
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