sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Dalton, e quem mais?
A literatura brasileira tem sido afetada por um curioso fenômeno: nossos escritores cansaram-se de escrever e andam tentando o sucesso em outras áreas: um, que deu as cartas na segunda metade do século passado, dedica-se há algum tempo à copromancia; outro, campeão de vendas, não parecendo satisfeito com essa, enveredou por outras magias. E os jovens, em busca do diálogo real, da fotografia perfeita do dia a dia, cultivam a coprolalia. "Vai te foder, puto" e "Escroto do cacete" pularam das ruas diretamente para os contos e romances. Alguns poetas redescobriram Casimiro de Abreu e, rimando amor com dor, vão(re)construindo um artesanato que, se não deve ser considerado superior ao tricô, já pode ao menos ser comparado a ele. Seus opositores, por seu lado, empenham-se em tornar tão obscuros seus poemas que se lamenta, a todo instante, a falta que faz Champollion. Nesse cenário, falar em Dalton Trevisan é uma covardia cometida contra todos esses batalhadores da arte literária. Podia-se citar Dalton como escritor quando havia outros: Guimarães Rosa, Drummond, Vinicius, Clarice Lispector, Paulo Mendes Campos. Apresentá-lo hoje como escritor leva à pergunta: e esses outros, são o quê? Para evitar o mal-estar que seu nome provoca - por ele insistir em fazer obras de arte há cinquenta anos -, bem que poderiam considerá-lo apátrida, assim como tantas vezes se disse que a Machado de Assis calharia bem melhor a cidadania francesa ou inglesa.
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