segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Resolução

Ontem à noite, sem conseguir dormir, cheguei à decisão que há muito deveria ter tomado: até domingo fecharei para sempre a loja. Há já um interessado em alugá-la, e, se bem que eu imagine quanto trabalho e sofrimento me dará reunir todos os meus objetos amorosos, não voltarei atrás. Farei tudo com calma. Não posso pegá-los aos montes e enfiá-los em sacos. Hei de examinar novamente um por um, cada qual com a merecida reverência. Que destino terá a maior parte deles já está resolvido, também. Eu os atirarei ao fogo. Os poucos que sobrarem serão os que me farão companhia em casa até o dia derradeiro, que me parece estar próximo. Se mantiver a lucidez até o fim, é provável que  me faça queimar também, com essas memórias - se não julgar indevido, como julgo agora, misturar meu corpo impuro e inútil a fragmentos de alma.

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