segunda-feira, 30 de abril de 2018
Dentro da lei
O homem diz aflitamente, enquanto o policial lhe arranca da mochila um livro de poesia: não sou traficante, sou usuário
Marcadores:
Literatura
Pioridade
Triste é a época em que nem por antiguidade um poeta consegue entrar numa antologia.
Marcadores:
Literatura
Acordo
Um dia talvez pudéssemos vir a aturar os sonetos, se eles prometessem ser um pouquinho menos longos.
Marcadores:
Literatura
Reincidentes
Os sonetos já se habituaram a ser condenados em todas as instâncias.
Marcadores:
Literatura
Estilo (para Jiro Takahashi)
Um haicai nunca ocupa um espaço sem pedir licença.
Marcadores:
Literatura
Horror!
Se você apontar beleza no poema de um jovem, ele imediatamente se defenderá, dizendo que não teve essa intenção.
Marcadores:
Literatura
Retificação
Não, meu caro. Capitu tinha olhos de ressaca, mas não era beberrona.
Marcadores:
Literatura
Alcoviteiro
O velho Machado sempre arranjava uma boa entrelinha para Capitu e Escobar.
Marcadores:
Literatura
Lástima
Um chato é sempre um fenômeno, um acontecimento. Pena que não seja único.
Marcadores:
Literatura
Exibicionismo
Os chatos impudicos resolvem sempre aparar suas arestas em nossa casa.
Marcadores:
Literatura
Manhã
Lá vai a bem-te-vi, saindo orgulhosamente do ninho com seus dois hifens.
Marcadores:
Literatura
O cara
Um chato é naturalmente, embora não seja gramático, quem se dispõe a nos explicar as sutis diferenças entre esférico e redondo.
Marcadores:
Literatura
Um blog
Abrir um blog é como acolher um passarinho. Que alegria é alimentá-lo diariamente, ouvi-lo cantar. Oito anos depois, sentimos cansaço na mão que leva o alimento, e o canto que ouvimos é o de um pássaro velho.
Marcadores:
Literatura
Consciência
Tenhamos orgulho de nós, se formos artistas. Dizem que não plantamos nada. Deixemos que digam.
Marcadores:
Literatura
Continuidade
A literatura é um daqueles tipos de demência em que, dependendo do estágio, a atitude mais sensata é continuar.
Marcadores:
Literatura
Pesquisa
Faltam-me estatísticas, mas imagino que nenhum poeta tenha começado a se tornar conhecido aos setenta e nove anos.
Marcadores:
Literatura
Repetição
Pela espontaneidade que exibem, certos defuntos passam a impressão de que não são novatos.
Marcadores:
Literatura
Frase de Gonçalo M. Tavares
"Hanna não pintava as pálpebras de cor roxa para ser amada, mas sim para que a solidão de um homem visse ali uma interrupção exuberante."
(De Jerusalém, Companhia das Letras.)
(De Jerusalém, Companhia das Letras.)
Marcadores:
Literatura
domingo, 29 de abril de 2018
Por que não?
Se um dia entrar na lista do Nobel, promete não achar tão antipática a palavra postulante.
O encontro
Um dos meus primeiros aprendizados, ainda na infância, foi o da tristeza. Não houve dificuldade nenhuma. Foi mais um reconhecimento que uma descoberta. Eu esperava por ela, e ela por mim.
Nem tanto
Não é verdade que escrevo poesia para celebrar as flores e os passarinhos, assim como é exagerado
dizer que eu tenha a intenção de com ela transformar o mundo.
dizer que eu tenha a intenção de com ela transformar o mundo.
Legado (para Mariana Ianelli e Silvana Guimarães)
Onde está o que prometi à poesia?
Onde estão as epopeias
que eu urdia
e as odes triunfais?
Não as fiz
não as farei mais.
Chego ao fim
e meu legado
é uma dúzia de quadrinhas
seis tolas
seis tolinhas
e alguns sonetos
talvez bem metrificados demais.
Onde estão as epopeias
que eu urdia
e as odes triunfais?
Não as fiz
não as farei mais.
Chego ao fim
e meu legado
é uma dúzia de quadrinhas
seis tolas
seis tolinhas
e alguns sonetos
talvez bem metrificados demais.
Revide (para Rose Marinho Prado)
As coisas aprenderam a exercer a reciprocidade e cansaram-se de mim.
Modo de ser
A poesia não precisa, e não deve, ser uma garota toda enfeitadinha. Mas também não é necessário que tenha sempre essa cara, que os românticos lhe deram, de chorona e de ranhenta.
Aparência
Assim como a mulher de César, a literatura deve parecer honesta - o que não é nada fácil, a começar pelo fato de que na maioria das vezes ela é vista na companhia de escritores.
Tradição
Ainda podemos dizer que somos mártires da literatura. Por que não poderíamos? É o que todos vêm fazendo, há milênios.
sábado, 28 de abril de 2018
Descrença
Não acredita que o conde, com suas mãos de camponês bem-sucedido, tenha ensinado à condessa certos toques de seda de rameira fina.
Também lirismo
Além das metáforas sexuais, a condessa lhe inspira surpreendentes lirismos.Hoje, admirando-lhe as mãos, ele sentiu não poder oferecer-lhes melhor passarinho.
Maldade
Uma noite, sem que ele lhe perguntasse, a condessa disse que seu maior prazer era mordiscar um chocolate. Em seguida, atirando-se nos braços dele, ela implorou: é mentira, me perdoa, eu não quero te ver triste.
Linguagem
Nos estremecimentos finais, a condessa aprecia gritar obscenidades, pelas quais depois nem sempre se desculpa.
Na mesma moeda
A intimidade com a condessa vai lhe dando algumas certezas. Uma: na próxima vez que ela o morder, retribuirá.
Minúcias
Tem feito observações curiosas sobre a condessa. Hoje de manhã, vendo-a partir um pãozinho, acreditou descobrir que é a mão esquerda que ela usa nos seus vícios.
A novidade
Anda inquieto, esperançoso. Nas suas fantasias sexuais mais recentes, a condessa tem exibido um chicote que ainda não se dispôs a usar.
Ardil
A condessa só conseguiu atrair o poeta romântico para a sua cama na noite em que prometeu mostrar-lhe uma flor.
O ponto
Ideias são importantes, mas o poeta não deve esquecer que é com as palavras que ele há de firmar seu pacto.
Característica
O realismo tem o hábito de superestimar itens não propriamente literários, como a vida.
Anteontem
A literatura já foi muito melhor álibi, no tempo em que se sabia o que era álibi e o que era literatura.
sexta-feira, 27 de abril de 2018
Educação sentimental
Depois dos quinze anos, sua língua fixou-se na preferência pelo sal e aprendeu que é mais fácil procurá-lo nas regiões sulinas.
Confissão
Simpatizo com mulheres que pronunciam erres como se tivessem acabado de tomar champanhe. Mais ainda se forem, ainda que discretamente, pecadoras. E muito mais se forem condessas. Deve ser por meu complexo de polonês proletário.
Boa lua
Sente-se hoje amistoso, receptivo, quase fraterno. Se um defunto o cumprimentar, responderá: bom dia, colega.
Precezinha sem muito futuro
Gostaria de ser pervertido por uma condessa bem sacana depois que ela aprendesse tudo com os homens e as mulheres que a ajudam a trair o conde.
Hoje no portal do Estadão
Um texto em que as bijuterias se proclamam ouro.
http://emais.estadao.com.br/blogs/escreviver/na-calcada/
http://emais.estadao.com.br/blogs/escreviver/na-calcada/
Carga pesada
Há sonetos em que cada um dos catorze versos parece ser cento e quarenta e quatro e se arrasta como se pesasse duzentos e oitenta e oito quilos.
Aquela cena
Hoje, separada dele já há tanto tempo, ela se pergunta como pôde aturá-lo. Homem ridículo. Quem, além dele, seria capaz de, noite após noite, beijar-lhe o umbigo e perguntar: de quem é este furinho lindo aqui? Ela se lembra disso e suspira, como se estivesse naquela época e achasse ainda haver algo de romântico na cena.
Habilidade
Um escritor gongórico dá jeito de num texto de duas linhas conseguir vaga para três advérbios. Facilmente, rapidamente, descaradamente.
Nada/tudo
Vitórias de amor são prosaicas. Relatá-las é induzir ao sono. Mas que excitação épica se nota quando alguém, vivo como qualquer um de nós, se dispõe a narrar tudo que o levou a ser escravizado, supliciado e gloriosamente morto pelo amor.
Não, obrigado
Olhem, francamente, faz dez anos que vocês me telefonam e é sempre o mesmo papo. Quando vocês tiverem o ômega 5, podem ligar, está bom assim?
O problema de sempre
A ternura é assim. Está sempre atrasada. Temos pudor de admiti-la, vergonha de confessá-la e, quando pensamos que ela talvez seja bem recebida, já é tarde.
quinta-feira, 26 de abril de 2018
Como seria
Estive pensando hoje no que eu faria se a reencontrasse, e ocorreu-me esta ideia maluca. Eu gostaria de, com todo o respeito ou nenhum, dar-lhe um tapa na bunda.
Nem pensar
Se alguém se dispuser a dissecar sua alma, não o deixe nunca aproximar-se do seu coração.
Crepúsculo
Em três fins de tarde do mês passado ele sentiu pelo corpo um mormaço tendencioso, que o fez lembrar antigas comichões sexuais. Mas foram essas três vezes apenas, depois das quais voltaram a melancolia e aquele sentimento que ele já aprendeu a identificar como autocompaixão.
A carta
No sonho ele era Brad Pitt e tocava a campainha de um sobradinho. A mulher que veio atender, lindíssima, não se impressionou com ele. Pegou a carta da sua mão e perguntou: "Raul, faz tempo que você está nos Correios?"
Hipóteses
É volúvel em suas opiniões sobre sexo. Um dia, acha que ele oprime; no outro, que ele liberta. Tem certa simpatia pela primeira hipótese.
Bas fond
Nos sonhos se libera, e seus bons princípios - e às vezes até os melhores - acabam aceitando convites de mulheres voluptuosas.
Incorrigível
Continua sendo um tolo. Em tudo. Se pensa em sexo, imediatamente lhe vem a palavra pecado. Se insiste em pensar, e começa a imaginar uma cena qualquer, seus bons princípios logo dão um jeito de colocar ao menos um pouco de afeto na história.
Como era bom
Houve um tempo - hoje não mais - em que a literatura valia a pena, pelo menos para os editores.
.
.
Da hora
Sou um homem moderno, atento às redes sociais. Seja qual for o fato, prefiro sempre a pior das versões. Se me dizem que alguém é desonesto, acredito imediatamente.
Cliente especial
Se a Morte me chamar, não direi que não, se ela prometer me tratar com carinho e pagar a condução.
Oraçãozinha
Que o amor
sendo barco
destino de barco viva
conheça a calmaria
o fragor das ondas
a ventania
e que sendo esquife
vá à deriva
se fira
se rache
se espatife
mas sobreviva.
sendo barco
destino de barco viva
conheça a calmaria
o fragor das ondas
a ventania
e que sendo esquife
vá à deriva
se fira
se rache
se espatife
mas sobreviva.
Memória
Um chato esquece até aquela noite em que a Anitta lhe deu um autógrafo e quase um pouco mais, mas nunca o número da nossa casa e do nosso celular.
Futebolística
Você vê o Henrique Dourado, depois o Ábila, e descobre que uma das melhores coisas do mundo é não contratar um centroavante.
Procedimento (para Alfredo Aquino)
A situação está assim:
ou encompridamos nossos meios
ou encurtamos nossos fins.
ou encompridamos nossos meios
ou encurtamos nossos fins.
Monomania
Escrever tem sido só o que faço. Escrevo, escrevo. Sobre o que escrevo? Ah, vocês sabem. Acho que, basicamente, escrevo sobre o ato de escrever.
A única (para Alfredo Aquino e Gabriel Perissé)
Como dizer a um escritor que não é importante a persistência, se às vezes isso é a única virtude que ele tem?
Do Verissimo, hoje, no "Estadão"
"A única vantagem de estar morto na Inglaterra é que nos livramos do clima."
quarta-feira, 25 de abril de 2018
Marketing
Se lhe perguntarem qual é sua ocupação, diga que você atua na área de logística. Você não tem ideia do que é logística? Não importa. Você vai causar admiração justamente por isso: ninguém sabe o que é logística. Mas como soa bem.
Toque mágico
Nada como as biografias. Elas conseguem transformar num fato positivo até a mais dolorosa das fomes da infância.
Privação
Uma das coisas que me fazem condoer-me dos mortos é não poderem mais ter manias nem começar coleções.
Tradição oral
Um chato é sempre um contador de histórias perfeito, talvez porque conte sempre a mesma: a própria. x
Vá por mim
Sim, quando alguém está fodido e diz que se encontra à mercê do destino isso pode ser considerado um eufemismo.
Ocasião (para Deonísio da Silva)
Enquanto o escritor decide se coloca uma vírgula ou duas, o sujeito da frase cria coragem e passa uma cantada no objeto direto.
Linhagem
Um chato é comumente fruto da persistência de várias gerações de uma família que quase sempre tem, entre os antepassados mais remotos, um fanático religioso.
Galanteio
Que você não precise da poesia eu entendo muito bem. A poesia está em você. Você é toda ela.
Norma técnica (para Ana Farrah Baunilha)
Não saber gorjear só deve se incluir entre os defeitos de fabricação se o poeta já tiver mais de dezoito anos.
Exagero
Vejo por aí pacotes imensos com a advertência: frágil. Que adjetivo usaríamos na etiqueta que fôssemos colocar num passarinho?
Carteirinha
Os clássicos tinham licença para usar palavras como auspícios, augúrios, despiciendo. Vá um de nós se atrever a fazer isso.
A conversa
Foi na terceira vez que ela disse: Olha, eu vou ser franca. É melhor a gente ficar por aqui. Desprezo? Não, é só falta de interesse mesmo.
Novos rumos
Talvez você gostasse de me ver hoje. Estou melhor, acho. Livrei-me do cavanhaque e dos sonetos.
Honra ao mérito
Reconheçamos o valor dos gramáticos. Enquanto nos divertíamos com aquilo tudo que o Diabo nos ofereceu na adolescência, ele lidava com próteses, epênteses e paragoges.
Falta de jeito
Para certos vivos a morte não cai muito bem. Não é uma questão de idade, mas de vocação.
Previsão
De um chato se pode esperar que, em nosso velório, seja quem mais lamente nossa morte. É compreensível. Coloquemo-nos no lugar dele. Pode um chato, por mais eficiente que seja, chatear um defunto?
Conquista
Quando penso no passado, nunca encontro razões para a tristeza que desde a infância me acompanha. Talvez orgulho não seja uma palavra adequada, mas é a que exprime exatamente, para mim, essa que é a única bem-sucedida tentativa de criar algo que posso chamar de meu.
A saber
Há escritores de dois tipos: os que escrevem sobre si próprios e os que escrevem sobre si mesmos.
Final de crônica de Antonio Prata
"Dizem por aí que a nossa missão na terra é escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Bobagem. O que importa é encontrar a sua poltrona. Tá bom: seu amor e a sua poltrona. O resto, se tiver que vir, virá."
(De Trinta e poucos, publicado pela Companhia das Letras.)
(De Trinta e poucos, publicado pela Companhia das Letras.)
terça-feira, 24 de abril de 2018
Faltava esta
Provérbios de anteontem à tarde andam falsificando a certidão de nascimento e pintando a barba de branco. Alguns se dizem mestres de philosophia.
Compartilhamento
Um chato reformula semanalmente sua teoria sobre a criação do mundo e naturalmente faz questão de nos manter atualizados.
Qualificação
Provérbios respeitáveis devem ter pelo menos cinquenta anos e andar sempre com os documentos comprobatórios.
Por favor, não
Se todos os provérbios do mundo se dessem as mãos e saíssem por aí caminhando, morreríamos todos de chateação.
Sobrevivente
É um provérbio histórico, durão, que sobreviveu à gripe espanhola e à Grande Depressão.
Colega ilustre
Um provérbio que conheci outro dia garantiu-me que frequentou o colégio com Dom Pedro I.
Prescrição
Morrer de amor foi um uso
Que de tanto ser usado,
Reusado e reutilizado,
Caiu em total desuso.
Que de tanto ser usado,
Reusado e reutilizado,
Caiu em total desuso.
Autopersuasão
Ainda hei de me convencer
De que não influíste em nada,
De que não és a culpada,
De que morri por morrer.
Saudosistas
Tirando aquela meia dúzia de fanáticos de sempre, quem mais conhece cantigas medievais são os fantasmas daquela época. Sei por mim, que há uma semana os venho ouvindo aqui em casa, neste bairro suburbano no qual a preferência é o sertanejo universitário.
Sempre (para Rose Marinho Prado)
Começa a achar que optou por uma estética errada. Toda vez que se muda, é aquele transtorno: um caminhão só para transportar os poemas concretos.
Farra
Certa madrugada, dois ou três fantasmas, talvez até quatro ou mais, fizeram uma balbúrdia aqui em casa. Beberam, dançaram, quebraram copos e sofás. De manhã, meia hora depois que se foram, fui ver se tinham poupado o jardim - e vi meu cachorro, o santarrão Bob, fumando cachimbo.
Falha na coleção
Já é hora de admitir a minha decepção. Tantos fantasmas já me visitaram, e nenhum foi um daqueles clássicos que arrastam correntes com bolas de ferro.
Birra
A maior queixa das mulheres contra os fantasmas é eles largarem as bitucas em todos os cantos da casa e nunca fecharem direito as torneiras.
Modo de viver
Minha família diz que estou me matando pela literatura. Só a primeira parte é verdadeira.
Vícios parnasianos
Titilar seria, para mim, igual a burilar, se não fosse um pouquinho mais excitante.
Se
Talvez o bom humor me salvasse, se eu houvesse dado a ele uma oportunidade de se entender com a minha tristeza. Se os dois houvessem tomado um café juntos, se houvessem compartilhado um pãozinho de queijo, se houvessem se lembrado de mim, se houvessem julgado importante conversarem sobre mim...
Uma frase de Victor Hugo
"Em literatura, o meio mais seguro de ter razão é estar morto."
(Extraído do Dicionário Universal de Citações, de Paulo Rónai, publicação da Editora Nova Fronteira.)
(Extraído do Dicionário Universal de Citações, de Paulo Rónai, publicação da Editora Nova Fronteira.)
segunda-feira, 23 de abril de 2018
Ah, então é isso
Já era a terceira noite em que eu sentia a presença do fantasma no meu quarto quando, ouvindo aquele arfar que não vinha dele e desde a primeira vez havia me intrigado, finalmente entendi. "Senhor Baskerville, é esse seu nome, não?"
Marcadores:
Literatura
Timbre
A voz do fantasma soava ainda mais feminina nas madrugadas - três ou quatro por mês - em que soluçava com extremo requinte gramatical: ama-me, ah, ama-me.
Marcadores:
Literatura
Modernidade
Os pombos-correio são talvez o mais triste exemplo de como podem ser cruéis as novas tecnologias.
Marcadores:
Literatura
Fantasma folião
Acho que, no final das contas, tive sorte com meus fantasmas. Não me trataram pior do que, no geral, me trataram os vivos. Um vizinho me contou que teve experiências desagradabilíssimas com fantasmas. O que mais recentemente se instalou na casa dele disse chamar-se Zé Pereira e por quatro noites, embora não se deixasse ver, advertia esse meu vizinho e a família: não olhem para mim, não olhem, que estoupelado. Isso foi neste carnaval. A partir da quarta-feira de Cinzas, ele não apareceu mais.
Marcadores:
Literatura
Gentleman
Desde o começo achei que ele fosse o fantasma de algum nobre inglês. Tinha passos macios, fazia tudo para não perturbar e, se tossia, imediatamente se desculpava: excuse me. Fui notando que a tosse se tornava dia a dia mais seca e mais intensa, e ele já não parecia ter forças para murmurar a desculpa. Uma noite ele tossiu demais. Disse excuse me com uma voz muito triste e ouvi, soando na escada, que ele descia, os passos que já não conseguia manter macios. Foi a última vez.
Marcadores:
Literatura
O fantasma sem nome
Ele não chegou a dizer seu nome. Foi um fantasma respeitador, pelo menos no início. Mais ou menos na terceira semana, quando começou a chegar só de manhã, tocando sanfona, fui obrigado a dizer que nunca mais aparecesse. Minha mulher e eu, quando nos lembramos dele, o chamamos de "aquele lá do baião".
Marcadores:
Literatura
O fantasma ideal
Era um fantasma educado. Bebia e comia sem se queixar de nada, como se minha casa fosse um impecável hotel, e gostava dos meus sonetos, principalmente quando eu não os mostrava.
Marcadores:
Literatura
Um leão por dia (para Celina Portocarrero e Marisa Lajolo)
Brasileiro é exigente. Um deles me disse que Paulo Coelho pode até ser um grande escritor, mas não acredita que ele consiga levitar.
Marcadores:
Literatura
Tipos
Há os fantasmas grosseiros, e há os desagradavelmente educados. Os primeiros não apertam a descarga. Os outros, mesmo quando se trata de um xixizinho, a apertam no mínimo três vezes.
Marcadores:
Literatura
Borracho
Um fantasma que me fez rir muito foi um que, tendo bebido toda minha cerveja, amanheceu dormindo na casa do cachorro, em comovente fraternidade.
Marcadores:
Literatura
Dúvida crudelíssima
E houve também aquele fantasma que, em momentos de crise de identidade, ia ao meu quarto para dizer que estava vivo.
Marcadores:
Literatura
Índole
E houve aquele fantasma, Xavier ou Javert, nome assim, que certas noites resolvia me acordar e submeter a interrogatório.
Marcadores:
Literatura
Obviedade
Tive em casa uma vez um fantasma que, surpreendido uma noite na cozinha, disse chamar-se Cosme. No dia seguinte, meus receios se confirmaram: ele estava com outro fantasma - naturalmente Damião.
Marcadores:
Literatura
Decibéis
O mais intolerável fantasma que abriguei foi um que garantia ter sido tenor em Milão.
Marcadores:
Literatura
Gente fina
Fantasmas educados deixam bilhetes na porta da geladeira: desculpem, bebi todo o leite, acabei com o pudim.
Marcadores:
Literatura
Desfaçatez
Insuportáveis são os fantasmas de piratas. Chegam de madrugada, tomam todo o nosso rum e quando se vão, de manhã, esquecem na sala o papagaio.
Marcadores:
Literatura
Questão de espaço
Fantasmas de cantores tolera-se que venham com seu conjunto ou banda. Mas os maestros, com aquelas filarmônicas retumbantes...
Marcadores:
Literatura
Honestidade
Os fantasmas suíços nunca chegam um minuto antes ou depois da meia-noite.
Marcadores:
Literatura
Obviedade
Ontem à noite me debrucei sobre a Bíblia e dormi o sono dos justos.
Marcadores:
Literatura
Utilidade
Não subestimemos a História. Ela é que afinal, seja qual for seu critério, nos diz se o General Tal ou o Presidente Qual merece mesmo dar nome à nossa rua.
Marcadores:
Literatura
Passa-se o ponto (para Ana Farrah Baunilha e Silvia Galant François)
Onde sempre as compro, fui buscar hoje um punhado de lágrimas de amor. O gerente me recomendou que faça um bom estoque. A loja vai fechar. Não há mais como mantê-la. Os fregueses são agora meia dúzia. Pobre loja, de tão belo nome: Casimiro de Abreu. Nos seus tempos de ouro, foi frequentada por Mario Quintana, sim senhor, Mario Quintana, ele mesmo, como se pode ainda ver numa foto logo na entrada.
Marcadores:
Literatura
Na cabeça de quem cair
Quem cospe para cima
só não sai cuspido
se o poupar a rima.
só não sai cuspido
se o poupar a rima.
Marcadores:
Literatura
domingo, 22 de abril de 2018
Hoje na Rubem
Empilho algumas frases que talvez tenham sentido, embora dificilmente brilho.
https://rubem.wordpress.com/2018/04/22/frases-talvez-com-algum-parentesco-raul-drewnick/
https://rubem.wordpress.com/2018/04/22/frases-talvez-com-algum-parentesco-raul-drewnick/
Festeiro
Contra todas as aparências, o chato pode ser muito amável. Sabe em que dia nascemos, em que dia fomos registrados, em que dias não ganhamos o Nobel - e em todas essas datas inevitavelmente nos cumprimenta.
Preservação (para o Gianluca, a Bianca, a Nicole, a Duda e a Bia)
Jamais comece uma frase com um passarinho, se no meio dela houver o risco de surgir um gato.
O de sempre
Se num romance policial aparece logo na primeira frase um rio, é quase certo que nele será encontrado, algumas linhas depois, o corpo de um milionário libertino e famoso por sua ligação com a máfia das drogas e da prostituição.
sábado, 21 de abril de 2018
Assim sim (para o Ariovaldo Bonas)
Gostaria de relembrar minha infância se dela houvesse participado, digamos, a Madonna, e lhe tivesse agradado brincar de consultório - mesmo que ela quisesse ser sempre a médica.
E não é? (Para Angela Brasil)
O melhor da psicanálise é sempre arranjar para os nossos atos um culpado que nunca somos nós.
Brincadeirinha
O Marquês de Oliveira -
um dos orgulhos nossos -
do que mais gostava
nas azeitonas
era dos seus caroços.
um dos orgulhos nossos -
do que mais gostava
nas azeitonas
era dos seus caroços.
Resolução normativa
Os poemas concretos devem ser mencionados na declaração do IR quando ultrapassarem cinquenta metros quadrados.
A mão da condessa
Foi uma vez apenas, nunca mais. Só naquela manhã. O conde estava cavalgando, já, e a condessa, que detestava cavalos, tomava ainda o último gole de café. Fui entregar-lhe uma carta, e ela, depois de pegá-la, apertou minha mão. Foram quinze segundos, um minuto talvez. Meus dedos foram tão fortemente subjugados que eu receio ter gemido. Ela suspirou, lembro-me, e depois, com aquele ar despótico, me disse: agora pode ir.
Da mulher, para o gramático (para Amauri Ernani e Paula Giannini)
Tome uma boa chuveirada, largue no banheiro todos os eufemismos e venha logo para o tálamo.
Fuga (para Rose Marinho Prado)
As metáforas escavaram um túnel dentro do poema concretista e se evadiram todas. Eram três, segundo as autoridades, e setenta e três, segundo o autor.
Característica (para Silvana Guimarães)
Um soneto tem sempre certa pose. Às vezes é só o que ele tem.
Frase de Boyle Roche
"Que é que a posteridade tem feito por nós?"
(Extraído do Dicionário universal de citações, de Paulo Rónai, publicado pela Editora Nova Fronteira.)
(Extraído do Dicionário universal de citações, de Paulo Rónai, publicado pela Editora Nova Fronteira.)
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Sem comentários
Aqueles maganões que se jactavam de seu desempenho sexual: até hoje nenhuma de minhas mulheres reclamou.
Cantadinha legal
"O que eu faço? Sou jurista. É. Como aqueles da televisão. Quer ir lá em casa ver meus embargos infringentes?"
Bom sinal
Tosses intensas e prolongadas eram recebidas pelos poetas românticos com entusiasmo, quase como se fossem convites para encontros amorosos à meia-noite, num cemitério.
Lógica
Há quem persista nos erros a vida inteira. São os que aceitam ser chamados de ignorantes, mas jamais de incoerentes.
Oportunidade
Vendo com amplo financiamento
um apartamento concretista
com excelente vista
e quatro vagas no estacionamento.
um apartamento concretista
com excelente vista
e quatro vagas no estacionamento.
Constituição (para Rose Marinho Prado)
Um concretista
tem meio pé na poesia
e um e meio na engenharia..
tem meio pé na poesia
e um e meio na engenharia..
Milagre
O poeta estava morto, confortavelmente acondicionado no caixão diante dos parentes e amigos, mas seus dedos ainda contavam alexandrinos.
Sine qua non
Como diz ainda um parnasiano sobrevivente, se um soneto soar bem não precisará fazer mais nada.
Hoje no portal do Estadão...
... mais algumas tentativas de fazer alguma coisa parecida com poesia...
http://emais.estadao.com.br/blogs/escreviver/dois-dedos-de-poesia/
http://emais.estadao.com.br/blogs/escreviver/dois-dedos-de-poesia/
quinta-feira, 19 de abril de 2018
Estoque
Os escritores bronquitosos, mesmo que escrevam só um parágrafo por dia, devem ter sempre à mão pelo menos um frasco de xarope e uma grosa e meia de vírgulas.
Participação
Num conto, novela ou romance, há de existir sempre espaço para um gato, mesmo que ele apareça só para bocejar e dormir, numa frase ou em metade dela.
Bem assim
O último conselho que o sexto sentido, já velhinho, deu ao homem foi: é bom ir arranjando o sétimo.
O indesejável adjetivo
Um dos mais decepcionantes elogios que um homem pode receber, em qualquer idade, é o de ser maduro. Para uma mulher é pior ainda.
Resposta
Se me perguntassem, eu diria que sou um poeta amador e pediria que esse adjetivo fosse tomado em sua acepção mais benevolente.
... e assim por diante...
Nas bibliotecas se reúnem livros; nas hemerotecas, jornais e revistas. Nas cuecas se guarda, além do passarinho, aquilo que vocês imaginam.
Presunção
Acho proxeneta uma palavra enfática demais para o que significa, mesmo quando pronunciada como se pronuncia bochecha, por exemplo.
Utilidade
Na porta do sobradinho largaram à noite um sofá estropiado. Nele se deitou um gato. De manhã, puxaram o sofá para dentro e puseram para correr o gato.
Autoatribuição
Sou um oferecido. Penso serem homenagens a mim todos os túmulos de poetas desconhecidos.
quarta-feira, 18 de abril de 2018
Ô raça (para Sandra Cerqueira)
Os gramáticos metem-se em tudo, até a dizer se na hora do transbordamento do amor devemos dizer minha Marinha ou minha Marazinha.
Parentesco (para Maria Aparecida Martins Brandão)
Chover no molhado
dizem que é primo
de molhar o chovido.
dizem que é primo
de molhar o chovido.
Déspota
Na antipatia que sentimos às vezes por um gramático está aquela mania dele de ter sempre a última palavra.
Bisbilhotice (para Rose Marinho Prado)
Gramático é aquele tipo que, por não ter melhor ocupação, se põe a observar palavras e vê nelas coisas que nós nunca imaginaríamos e que talvez não nos fizesse falta saber.
Estratagema
Quando você estiver comigo, pense em alguém assim como Tom Cruise ou Brad Pitt. Talvez minha poesia lhe soe melhor.
Pé atrás (para Deonisio da Silva e Liberato Vieira da Cunha)
Difícil é acreditar numa crase, mesmo quando ela jura ter as melhores intenções.
Zelo
O jovem gramático salta as poças com cuidado: que dirá o mestre se as crases se afogarem no caminho?
Manhã
Enquanto ao conde, glutão, os criados servem mais café, a condessa demora-se um pouco na cama e acaricia um fio de sol que lhe pousou no ventre.
Excelência (para Rose Marinho prado)
Os escritores russos eram russos como ninguém depois conseguiu ser.
Uma lembrança da rainha
A mão do rei era peluda, mas conservava um jeito infantil e brincalhão de ser, quando cismava de fazer coceguinhas.
Metalinguagem (para Rose Marinho Prado)
Metalinguagem é um desses recursos que eu às vezes utilizo sem lhes atribuir o devido crédito.
Pressa
O jovem escritor ainda mal passou pelo sim e pelo não e já começa a se aventurar pelo quanto e pelo quão.
Clandestinidade
Depois que surgiram as associações de proteção aos animais, os cisnes passaram a entrar só camufladamente nos sonetos, sob a forma de metáforas.
De Anatole France, sobre os poetas
"Os poetas ajudam-nos a amar: só servem para isso."
(Extraído do Dicionário universal de citações, de Paulo Rónai. Editora Nova Fronteira.)
(Extraído do Dicionário universal de citações, de Paulo Rónai. Editora Nova Fronteira.)
terça-feira, 17 de abril de 2018
De Monteiro Lobato, sobre o idioma
"A pátria é o idioma, e só no idioma pátrio a gente pode pensar bem e dizer besteira."
(Extraído do Dicionário universal de citações, de Paulo Rónai, Editora Nova Fronteira.)
(Extraído do Dicionário universal de citações, de Paulo Rónai, Editora Nova Fronteira.)
Hors concours
Chato invencível é o que sobe ao palco, manda parar a orquestra, interrompe o baile, pega o microfone e diz que vai imitar Vanderlei Luxemburgo.
Desproporção
Poetas antigos, onde já se viu?,
faziam epopeias em dez cantos,
e eu não consigo dar um pio.
faziam epopeias em dez cantos,
e eu não consigo dar um pio.
Hábito
Eu confiava mais na equidade quando ela ainda era escrita com trema - ou pelo menos a via com melhores olhos.
Vício
O ato de burilar, que tão caro foi aos parnasianos mais radicais e por muito tempo me encantou, parece-me hoje um vício bizarro como o de apagar a luz, sentar-se no sofá e apalpar o sexo de uma boneca.
segunda-feira, 16 de abril de 2018
Elementar
Quando um homem morre com uma palavra de duas sílabas nos lábios e um poema no bolso, o suspeito é sempre o amor.
Marcadores:
Literatura
A galinha e o ovo (nova versão)
Não sei se foi a tristeza
que nasceu comigo
ou se fui eu que com ela.
que nasceu comigo
ou se fui eu que com ela.
Marcadores:
Literatura
Ouropel (para Silvana Guimarães)
Dá-me hoje a alopecia
o brilho que nunca alcancei
com a poesia.
o brilho que nunca alcancei
com a poesia.
Marcadores:
Literatura
O nome
Literatura é o nome que eu, depois de tantos anos, desavergonhadamente, tento dar ainda àquilo que escrevo.
Marcadores:
Literatura
Simone, até de verde
Com o Sartre eu não sei. Com a Simone eu teria sido existencialista e tudo mais que ela quisesse, talvez até palmeirense (!!!).
Marcadores:
Literatura
Curiosidade
Gostaria de perguntar a um defunto se, pouco antes de morrer, sentia tanta preguiça quanto eu sinto.
Marcadores:
Literatura
Volp (para Rose Marinho Prado)
Quanta mão de obra gastaram para tirar os hifens de mão-de-obra.
Marcadores:
Literatura
domingo, 15 de abril de 2018
Otimista
De todos aqueles que desfrutou
E dos que apenas imaginou,
Diz que seus melhores amores foram todos.
E dos que apenas imaginou,
Diz que seus melhores amores foram todos.
Mais, mais, mais (para Alfredo Aquino)
No início, é glória o que nós queremos da arte. No fim, somos mais exigentes: queremos a salvação.
Chato minucioso
A festa está no começo mas o chato já elogiou o esforço de nossa mãe e de nosso pai para mandarem nosso irmão mais velho fazer o curso de direito em Londres, em 2004, nos pergunta, com sua tonitruante voz de vendedor de pamonha, se ele se forma mesmo no ano que vem.
Modéstia
Para não parecerem presunçosos, os que dizem ter inventado a poesia se eximem de proclamar que criaram também a beleza.
Soberba
Quando chegam ao sucesso, os poetas costumam ser ingratos. Desdenham de tudo que aprenderam em cada uma das escolas e passam a criticar todas. Dizem-se então vanguardistas.
Costurinhas
Lembrei-me de uma expressão que se usava no tempo em que eu pensava ser jornalista e no Estadão acreditavam que eu fosse. Quando fazíamos um frila, dizia-se que estávamos "costurando para fora".
Mantra para os tolos
Eu sei que sou grande, imenso,
Do que os melhores melhor,
Do que os maiores maior,
Bem mais até do que penso.
Do que os melhores melhor,
Do que os maiores maior,
Bem mais até do que penso.
sábado, 14 de abril de 2018
Sex shop (para o Xico Sá)
O Amor, que desaponto:
ontem estava passando o pinto,
hoje está passando o ponto.
ontem estava passando o pinto,
hoje está passando o ponto.
A arma (para Deonísio da Silva e Liberato Vieira da Cunha)
Nossa briga com a gramática é antiga, mas ainda trememos toda vez que ela abre aquele sorrisinho maligno e começa a tirar a crase da bolsa.
Poema do valor (para Ana Farrah Baunilha e Silvana Guimarães)
Caros me foram
teus cabelos de ouro
teus olhos claros
teu corpo e tudo
que ele guardava
e que eu descobria
Cara me foi tua inteireza
tua tristeza
tua alegria
tudo que te tocava
tudo que te agradava
tudo que te afligia
Cara me foste
desde a primeira noite
depois do primeiro dia
com tua alteza
com tua beleza
com tudo mais
que de ti fazia
a mais justa careza
e a mais honesta carestia.
teus cabelos de ouro
teus olhos claros
teu corpo e tudo
que ele guardava
e que eu descobria
Cara me foi tua inteireza
tua tristeza
tua alegria
tudo que te tocava
tudo que te agradava
tudo que te afligia
Cara me foste
desde a primeira noite
depois do primeiro dia
com tua alteza
com tua beleza
com tudo mais
que de ti fazia
a mais justa careza
e a mais honesta carestia.
sexta-feira, 13 de abril de 2018
História(s)
A literatura e eu somos parceiros antigos. Eu era um menino quando ela me seduziu. Há histórias longas que podem ser resumidas em duas ou três frases. Histórias que acabam onde começam. Histórias de meninos seduzidos pela literatura. E daí? Daí nada.
Texto de hoje no portal do Estadão
Uma molecagem daquelas...
http://emais.estadao.com.br/blogs/escreviver/poesia-moleca/
http://emais.estadao.com.br/blogs/escreviver/poesia-moleca/
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Retoricismo (para Inês Pedrosa)
Ah, aqueles textos antigos, caudalosíssimos, cheios de som e de fúria e sem um pingo de Shakespeare...
Nem e nem (para Ana Clara Piai)
Em assuntos de amor
sou um falso ambidestro:
com a esquerda não sou bom
e com a direita não presto.
sou um falso ambidestro:
com a esquerda não sou bom
e com a direita não presto.
Opostos
O que para alguns é exato
Para outros nem um pouquinho,
Há quem torça pelo gato
E há quem pelo passarinho.
Para outros nem um pouquinho,
Há quem torça pelo gato
E há quem pelo passarinho.
Atribuição
A melhor tarefa minha,
Das passadas pelo rei,
Não nego, nem negarei,
Era banhar a rainha.
Das passadas pelo rei,
Não nego, nem negarei,
Era banhar a rainha.
Majestade
Gato é uma palavra que pode melhorar qualquer frase, se deixarmos que ela caminhe sobre o texto com seus passos de veludo ou se deite sobre ele, bocejante.
Quintanar à moda da casa (p/ Jú Rosso, Renato Vieira Ostrowsky e Silvia Galant François)
Os grilos são todos filósofos; andam sempre grilados.
Melhor não
Se um dia a Verdade decidir se revelar, que ela seja cabal sem ser solene. Se a Verdade for verborrágica, talvez seja melhor que ela continue muda.
quarta-feira, 11 de abril de 2018
Ponto de vista
Um excelente modo de perder amigos é começar a vê-los como sempre foram e mostrar-lhes como sempre fomos.
Saudade (para Ana Farrah Baunilha)
Entrei virgem na escola. Não conhecia geografia, filosofia nem os vícios de linguagem.
Mistério
Olhos negros dizei-me quem é que
brilhantes assim permite serdes
mais que os azuis e os verdes?
brilhantes assim permite serdes
mais que os azuis e os verdes?
Cartão no meio de flores
Ah, quanto mais bela sois,
E como presente estais,
Sempre muito, sempre mais,
Já tantos anos depois.
E como presente estais,
Sempre muito, sempre mais,
Já tantos anos depois.
terça-feira, 10 de abril de 2018
Às escâncaras
Manter um blog é escrever um diário e torcer para que os olhos indiscretos sejam milhares.
Compaixão
Depois da página cem de uma novela erótica, mesmo que o narrador não diga, eu começo a imaginar a palidez do protagonista e sua dificuldade para subir escadas e pronunciar palavras longas como Paranapiacaba.
O principal
Em alguns livros e filmes o sexo é tão intenso que a partir da metade torcemos não mais pelo prazer do herói, mas pela sua sobrevivência.
Ardil
Presumo que o vendedor de melancias, quando passa pela minha rua e as apregoa por "cinco real", esteja usando uma técnica mercadológica.
Weltanschauung
Minha cosmovisão resume-se a um parquezinho com um menino ou uma menina andando de bicicleta, um cãozinho amistoso, um gato que já almoçou e dois ou três passarinhos no alto de uma árvore, a salvo.
Só aquilo
Há os que, por terem ouvido horrores sobre o despotismo do amor, passam a vida sem lhe dar uma chance. Dizem, com orgulho, ser só praticantes do sexo.
Exaustão
Os advérbios de modo às vezes saem tão acabados da cama quanto os protagonistas. Completamente.
Guerreiros
Alguns personagens de novelas movidas a sexo têm espírito olímpico: são atletas de cama, chão e sofá.
Acepção exata
Num romance erótico, é conveniente reservar determinados verbos para os momentos culminantes. O protagonista, se puder subir um muro para chegar ao quarto onde consumará sua missão amorosa, não deve trepar nele.
Risco
Inovações na descrição de cenas de sexo sempre causam o risco de fazer o leitor achar que o narrador não domina o assunto.
Proporção
Dois dedos de prosa - ainda que se trate do polegar e do médio - não valem um mindinho de poesia.
segunda-feira, 9 de abril de 2018
Mictório
Depois da terceira sacudidela, sentindo-se já em pecado, resolveu perder a conta.
Marcadores:
Literatura
A febre
As cenas de sexo ele prefere escrever com a Bic. Gosta de sentir a febre dela, a vibração, a inquietação da ponta com o afluxo da tinta.
Marcadores:
Literatura
Verossimilhança (para Marcelo Mirisola)
Uma descrição de sexo
tanto melhor será
quanto menos houver nexo.
tanto melhor será
quanto menos houver nexo.
Marcadores:
Literatura
Papo íntimo
De um homem para o seu dedo médio: o que nós já aprontamos, hem, companheiro?
Marcadores:
Literatura
Coerência
É um escritor que preza a lógica. Se fala de beijos molhados é porque antes falou de uma sede amorosa.
Marcadores:
Literatura
Assiduidade
Alguns poetas chegam aos setenta ou oitenta anos sem nunca terem mudado de escola.
Marcadores:
Literatura
Sabor
Gostaria de dizer amor com os lábios que tinha quando era menino e a prima dois anos mais velha perguntou se ele queria provar o morango do seu batom.
Marcadores:
Literatura
Nem tanto assim
O pênis, também conhecido por outros nomes, menos cerimoniosos, é uma criatura que se diz maravilhosa. Mas não tem, como pensa, o dom da infalibilidade.
Marcadores:
Literatura
Posturas
A burocracia é severa com os poemas concretistas. Para a inauguração de cada um, até do menor deles, exige alvarás e licenças de todo tipo, apólices de seguro, extintores de incêndio. Até o pipoqueiro, para ter seu carrinho na frente, precisa exibir crachá e estar com o atestado de antecedentes.
Marcadores:
Literatura
domingo, 8 de abril de 2018
Façanha
Porque a mulher era vista como insaciável e morava muito longe, num local inacessível aos meios de transporte comuns, ele só se pôs a caminho depois de calçar um bom par de pênis.
Versão
Poeta é quem leva um pontapé na bunda e diz que seu coração foi mortalmente ferido por um espinho de rosa.
Um modo elegante de dizer
Arderei no Inferno. Não resisto. Está no Aurélio: piça é eufemismo de pica.
Jactância
A expressão atributos físicos tem a pretensão de representar palavras como coxas, seios e bunda.
Hoje na Rubem
falo de chatos e de outras platitudes.
https://rubem.wordpress.com/2018/04/08/de-chatos-e-outros-tipos-raul-drewnick/
https://rubem.wordpress.com/2018/04/08/de-chatos-e-outros-tipos-raul-drewnick/
sábado, 7 de abril de 2018
Cantada fina
Minha querida, tenho pensado se não está na hora, já, de nós levarmos nossa amizade para a cama.
Cantada em tom cinza
Estrela de minha vida, guia minha mão ansiosa para o centro profundo e palpitante do teu ser.
Galanteio de bar
Me dá mais uma chance, vai. Aquilo faz três anos já. Como eu ia saber que você ia ficar com essa peitaria linda?
Ainda o gosto
Sou comandante de um veleiro, hoje. As ondas de ontem, às quais sobrevivi, o lançariam ao fundo ao primeiro vento. Quem me dera ter nas mãos ainda o leme daquele navio e sentir de novo o impacto salino lanhando a pele e deixando nos lábios aquele sabor de êxtase.
Questão semântica
Sem tirar nem pôr não é propriamente uma expressão que indique uma trégua num ato de natureza sexual.
sexta-feira, 6 de abril de 2018
Naturalidade
Os poetas que acreditam receber a poesia diretamente de Deus só têm o trabalho de recolhê-la todo dia e de agradecer a Ele, quando se lembram.
Mania
Quando diz que todos os brasileiros deveriam ler Os sertões, o chato euclidiano, sabe-se lá por quê, sempre olha para nós.
Covardia
Os chatos sabem alemão e, para demonstrar seu conhecimento, só esperam a hora em que pronunciaremos o nome de Brecht.
Conduta
Trate bem sua tristeza. Dê-lhe rosas, sedas, fragrância s. Diga-lhe ternuras na hora de dormir, conte-lhe histórias amenas. Você já foi abandonado tantas vezes. Não falhe de novo. Não lhe resta nada além dela.
Spoiler
Os chatos conhecem o spoiler há milênios. Todos os célebres profetas e adivinhos de todos os tempos se dedicaram sempre a esse trabalho de desmanchar prazeres e estragar surpresas.
De Henri-Frédéric Amiel
"De todas as horas do dia, quando o tempo está bom, é à tarde, pelas três horas, que acho sobretudo terrível. Jamais sinto, mais do que então, 'o vazio espantoso da vida', a ansiedade interior e a dolorosa sede da felicidade."
(De Diário íntimo, tradução de Mário Ferreira dos Santos, publicado pela É Realizações.)
(De Diário íntimo, tradução de Mário Ferreira dos Santos, publicado pela É Realizações.)
Onipresente
Não se vanglorie se você estiver numa gloriosa tarde em Londres ou em Paris. Aquele chato da sua rua, no Alto da Lapa, pode esbarrar em você a qualquer instante e perguntar em que hotel você está.
Hoje no portal do Estadão
Algumas frases sobre o orgulho.
http://emais.estadao.com.br/blogs/escreviver/sobre-o-orgulho/
http://emais.estadao.com.br/blogs/escreviver/sobre-o-orgulho/
quinta-feira, 5 de abril de 2018
Major Quedinho, 28
Te revi hoje
velho prédio
Primeiro vi de longe
lá no alto teu relógio
marcando um tempo
que já não conheço
e já não me reconhece
Já quase na Martins Fontes
eu fiquei um pouco diante
do mural de Di Cavalcanti
bem ao lado do qual
o letreiro luminoso
notícias do mundo trazia
de Chipre de Tenerife
do Egito e da Turquia
Mineiros morriam em minas
e em Minas havia drummonds
que em São Paulo não havia
mas num escritório da Barão
com brilho e precisão
o poeta Guilherme de Almeida escrevia
as crônicas que teu jornal
meu querido prédio velho
no dia seguinte publicaria
Te revi hoje
velho prédio
onde a pulsação
do mundo se ouvia
E penso que
se não houvesses existido
eu não teria conhecido
tantas coisas que conheci
e imagino
que Chipre e Tenerife
que Egito e Turquia
e tudo que no mundo havia
houve somente
para que em teu coração
se escrevesse diariamente
o sagrado e o profano
a miséria e a glória
a tragicômica história do ser humano.
velho prédio
Primeiro vi de longe
lá no alto teu relógio
marcando um tempo
que já não conheço
e já não me reconhece
Já quase na Martins Fontes
eu fiquei um pouco diante
do mural de Di Cavalcanti
bem ao lado do qual
o letreiro luminoso
notícias do mundo trazia
de Chipre de Tenerife
do Egito e da Turquia
Mineiros morriam em minas
e em Minas havia drummonds
que em São Paulo não havia
mas num escritório da Barão
com brilho e precisão
o poeta Guilherme de Almeida escrevia
as crônicas que teu jornal
meu querido prédio velho
no dia seguinte publicaria
Te revi hoje
velho prédio
onde a pulsação
do mundo se ouvia
E penso que
se não houvesses existido
eu não teria conhecido
tantas coisas que conheci
e imagino
que Chipre e Tenerife
que Egito e Turquia
e tudo que no mundo havia
houve somente
para que em teu coração
se escrevesse diariamente
o sagrado e o profano
a miséria e a glória
a tragicômica história do ser humano.
Estratégias
Melhor exercer a autocondescendência do que esperar a compaixão alheia. Se podemos julgar-nos, por que importunaremos quem precisará, se quiser absolver-nos, fazer um imenso esforço para aceitar alguns de nossos abomináveis pecados, como os sonetos?
A voz das ruas
A poesia ainda hoje é tentada a fechar os olhos e deixar que o amor romântico recupere o espaço que tinha antes do modernismo. Não aguenta mais as reclamações dos leitores.
Interrupção
Talvez hoje eu merecesse biografia, se não tivesse havido um hiato entre o garoto promissor que fui e o menino prodigioso que não cheguei a ser.
Sobre temperaturas
Certas palavras ainda se acendem nele, promissoras. Seios, beijos, coxas, suspiros, gemidos. Porém são só mornas, hoje, não mais que isso, e o deixam a um melancólico meio caminho dos vulcões de antigamente.
Instrução
A tristeza deve ser alimentada com migalhas de pão e aquele mesmo tantinho de água que se dá a um passarinho.
Catalogação
Se o amor não nos dói, desconfiemos dele. Há tantos impostores de fala macia hoje. Amor não é entretenimento.
Trecho de "O diabo no corpo", de Raymond Radiguet
"Quando alguma coisa, vinda do exterior, me obrigava a pensar menos preguiçosamente em Marthe, eu pensava sem amor, com a melancolia que se sente pelo que podia ter sido. 'Qual! dizia comigo mesmo. Teria sido belo demais. Não se pode ao mesmo tempo escolher a cama deitar nela'."
quarta-feira, 4 de abril de 2018
Uma lembrança do Estadão
MARCADORES: LITERATURA
SÁBADO, 2 DE MARÇO DE 2013
No jornal (Major Quedinho) - 52 - A ironia
As reticências estão fora de moda. Usadas amplamente no romantismo, para indicar devaneio, meditação, abstração, sonho, divagação, foram, como as exclamações, saindo de cena. Hoje, elas servem quase só para pontuar o final de frases irônicas. Aqui, convém fazer uma reflexão. Tenho ouvido discussões sobre a possível utilidade - assim como no espanhol há interrogação não apenas no fim da frase, mas no inicio, como um aviso ao leitor - de se pôr no começo de frases irônicas um sinal qualquer. Isso seria sentenciar a ironia à morte. Equivaleria a revelar o desfecho de uma piada antes de começar a contá-la. Se bem que, há alguns anos, talvez eu aplaudisse a adoção desse absurdo. Na primeira crônica que escrevi para o Caderno2 do Estadão, em 1986, o texto dizia que as mulheres tinham sido mais felizes no tempo em que os homens as dominavam, não as deixavam falar, tratavam-nas como objetos e arrastavam-nas pelos cabelos para as cavernas. Citei na crônica a superioridade do homem até na gramática: se nove mulheres e um homem passam num concurso, deve-se dizer que eles foram aprovados. Tudo aquilo tinha tão evidentemente a intenção de ser irônico que fiquei espantado ao saber que uma leitora enviara à redação uma carta na qual me criticava por ser mais um porta-voz do machismo. O que aconteceu? Como mandava a praxe, pedi desculpas na seção de cartas. Se a leitora havia entendido pau onde eu pretendia que ela entendesse pedra, era inabilidade minha. Ou não?
Alienação (para Cida Damasco)
Uma quarta-feira como esta. E eu só consigo pensar no que vai fazer o Corinthians domingo.
Novo léxico
Aos jovens poetas caberia compor um dicionário diferente dos que há tanto tempo se pavoneiam nas estantes. Como seria? Simples. Vejamos uma palavra. Constelação seria estrelaria. Eles, os jovens poetas, poderiam aproveitar e acrescentar aos já surradíssimos sinônimos que os definem - aedo, vate, bardo - alguns mais simpáticos. Posso sugerir dois: quintana e barros.
24 horas
Se fosse um verbo, ele gostaria de ser um dos que exprimem fases do dia. Seria abençoado com o dom de não falhar. Obedeceria a todos os fusos horários, aos mandamentos dos hemisférios e às estações. Amanheceria, entardeceria, anoiteceria onde quer que ela estivesse. Nas madrugadas, ao pé da cama, zelaria por ela como o mais fiel dos cães.
Só pode ser ele
Se alguém elogia a gramática, logo desconfiamos: deve ser aquele sujeito de quem ela anda falando, como é mesmo? Amásio.
Pose
Se soubessem que má figura fazem os que empinam o nariz e começam frases avisando: "Vou partir de um pressuposto"...
Pelo menos isto
Se a gramática sorrisse de vez em quando e tirasse aqueles óculos de lentes grossas...
Que tal?
Antes de me oferecer o ombro, que tal pensar em outra hipótese, num pedacinho de corpo mais fofo? Evitar lágrimas é dever de todos.
Figura
A gramática é como as velhas bruxas dos livros antigos. Nunca se livrará da fama de afogar gatinhos.
Desvio de finalidade
Horizonte é uma das tantas palavras poéticas que os textos de autoajuda usam desavergonhadamente no sentido de meta ou objetivo.
Como num estalo
O tempo é aquilo que se sabe. Você está vendo tudo claro e, num piscar de olhos, já precisa de óculos.
Cotação do dia
Olho para mim, para este corpo, e além destes olhos tristes não vejo nada que justifique a existência de uma alma.
terça-feira, 3 de abril de 2018
Ressalva (para Ana Farrah Baunilha)
Quando começamos a lastimá-los e a oferecer-lhes consolo, os mártires do amor nos interrompem e juram que não há ninguém mais feliz que eles.
Ponto e vírgula (para o Chico Rezende)
Não sei se o ponto e vírgula é uma indecisão da gramática ou mais um das demonstrações de sua prepotência.
Dívida (para Cássio Zanatta e Ronaldo Dias)
Estou pagando a vida inteira pelos meus dez minutos de romantismo. Com juros juros desde 1960.
Nova chance
Mesmo que já no primeiro verso apareça um daqueles chatíssimos passarinhos dos poemas antigos, recomenda-se ao leitor que não desista. Pode ser que o poeta esteja apenas começando a narrar o almoço de um gato.
Quem diria
Se adivinhassem que iriam receber tantos elogios, certos defuntos talvez tivessem abandonado antes o exercício de respirar.
Sem chave (para Silvana Guimarães)
Há poemas tão herméticos que só na última linha o leitor nota que continua do lado de fora.
Previsível
Tão previsível é o amor. Sempre cobrando sangue, sempre exigindo vida, sempre prometendo eternidades. Sempre morrendo sem glória, como um tenor que desmaia ao entoar Meu limão meu limoeiro no terceiro ato, depois de no primeiro e no segundo haver prometido derrubar o teatro trovejando Rigoletto.
segunda-feira, 2 de abril de 2018
A proclamação
Ele exaltará aquela parte de ti que sempre recusaste a todos, e tão bem a exaltará que sentirás, agora plenamente, como estavas certa toda vez que negaste esse teu precioso dom.
Marcadores:
Literatura
A lembrança
Minha tristeza pode dizer que sorriu uma vez. Lembra-se bem. Foi há muito tempo. Gostaria de não ter sorrido. Nunca mais foi a mesma.
Marcadores:
Literatura
Cotação do dia
Você diz que está triste, que está morrendo. Ninguém lhe responde. E por que alguém responderia? Há quanto tempo você só ouve os apelos que vêm de sua mesquinha voz interior?
Marcadores:
Literatura
domingo, 1 de abril de 2018
Mario Quintana - para Silvia Galant François
Alguma criancice o poeta pode conservar - como a de supor que, embora não saiba voar como Mario Quintana, gorjeia quase tão bem quanto ele.
Usura (para Silvana Guimarães)
À noite, abre o cofre, esparrama os sonetos pela cama e adormece conversando com eles, como se fossem seus carneirinhos.
Multiplicação
Qualquer chato, em qualquer festa, parece estar sempre na quinta ou na sexta dose, quando não passou nem da segunda.
Lucro
O empobrecimento cultural pode ser uma bênção. Notaram? Não há mais aqueles chatos que citavam máximas em latim.
Mérito
Quando você morrer, reconhecerão algumas das qualidades que hoje lhe negam: a serenidade, por exemplo.
Assinar:
Postagens (Atom)