sexta-feira, 27 de maio de 2011
Vida
Morreram quase duzentos no acidente e seus nomes estão nos jornais, nas rádios, na internet, na tevê. Dos mais ilustres, divulga-se algo mais do que o nome: biografias de um ex-ministro, de um cantor que vendeu duzentos mil cedês em 1998, de uma atriz promissora, de um advogado defensor de causas célebres. Aqui e ali, citam-se também - produto do trabalho de pesquisa dos jornalistas - o dono de uma rede de lojas de 1,99, um ex-banqueiro casado vinte anos antes com uma tenista chilena muito mais bela e chilena do que tenista, e mais algumas pequenas celebridades. Parentes e amigos velarão seus corpos, lembrarão o que fizeram, celebrarão os pequenos e grandes feitos dos mortos e, quando todos estiverem sepultados ou cremados, virá aquele momento em que os vivos irão para uma churrascaria ou uma sorveteria e sentirão que ir à churrascaria ou à sorveteria, por mais prosaico que pareça, é algo que jamais trocariam por nenhuma glória ou gloríola de nenhum dos mortos.
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