quarta-feira, 21 de setembro de 2011
O comandante
Devo desistir, então, não te mandar mais nenhuma palavra e acolher todas as que te enviei nesses anos todos e voltam agora - tão humilhadas, tão vencidas, tão esfarrapadas quanto soldados que, perdendo a última batalha, perderam também a honra e, por um pedaço de pão velho, negociaram o uniforme, as botas, as armas e até o estandarte no caminho. Recebi esta manhã a primeira leva desses estropiados, dessas palavras outrora nobres e que hoje, por vergonha, se recusaram a dizer quem são. Eu as chamei uma a uma pelo nome - ternura, afeto, sentimento - e nenhuma ergueu a mão. Quando pronunciei o nome do amor, o silêncio assumiu a intensidade que costuma anunciar as grandes desgraças e, em seguida, todos aqueles soldados, pálidos como fantasmas, puseram-se a chorar e a soluçar pelo comandante, que, escondido no fundo, encolhido, não ousava olhar-me. Eu, porém, olhei para ele e, em troca do nome que não soube honrar, dei-lhe três - maldito, covarde, inútil - e o toquei dali para fora como se fosse um leproso.
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