quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
O horror, o horror
Um dia, você se verá numa sala ampla, no meio de uma dezena de homens tão velhos quanto você. Um o chamará de Aristides, outro de Aristeu, um terceiro de Orozimbo, e você tentará lembrar qual desses é o seu nome. Vocês almoçarão e você chamará um de Seixas, um de Jarbas, um de Ernesto, e vocês se entenderão. O almoço terminará e uma freira, com ar de grande concessão, virá ligar a tevê num canal que estará passando um abominável programa de domingo, com um daqueles apresentadores que não tiram o sorriso da boca nem para escovar os dentes. Então você já estará sentado numa das poltronas doadas pelos beneméritos que investem na salvação da alma e quando um daqueles homens, um Natanael qualquer, fizer um comentário, você, que tanto amou Dostoiévski e Tchekhov, elogiará Silvio Santos.
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