sábado, 28 de janeiro de 2012
Noite de chuva
Trataste o amor como um jogo de salão numa noite de chuva. Ganhavas uma partida, perdias outra e, enquanto ganhavas e perdias, eu tentava te transmitir algo que insististe em não entender. Na quinta partida, ou na sexta, eu já não olhava para as cartas, olhava para as tuas mãos, que as distribuíam com a mesma displicência com que olhavas para mim. Por algumas vezes as três pequenas palavras estiveram nos meus lábios e quando enfim consegui dizer a primeira - "eu" - tu me interrompeste e, olhando para fora, disseste: "O tempo melhorou." Não era verdade, mas eu me despedi, substituí as duas palavras que teria ainda para te dizer por outras - "boa noite" - e saí para a chuva, para os relâmpagos e para a desolação.
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