terça-feira, 8 de maio de 2012
Admirador matutino
Durante seis meses, no seu obstinado afã de conquista, ele enviou toda tarde meia dúzia de rosas ao endereço da mulher pela qual se apaixonara. Assinava no cartão ora "seu fã", ora "seu admirador", ora simplesmente "um amigo". Na manhã seguinte, favorecido pela circunstância de pegar sempre o mesmo ônibus que ela, sorria-lhe tão abertamente que era como se lhe perguntasse: recebeu as flores? Ela, porém, nem o olhava. Ele contou o que estava lhe sucedendo a um amigo que, depois de pensar um pouco, lhe disse que ele devia estar fazendo algo errado. Nessa tarde mesmo, em vez de seis mandou doze rosas e escreveu no cartão, achando-a poética, a expressão "seu vizinho matutino". Na manhã seguinte, no ônibus, sorriu mais significativamente para a amada e, para que não ficasse dúvida, mostrou-lhe os dez dedos abertos e em seguida adicionou dois, num gesto cuja execução lhe custara uma hora de treino noturno. Não recebendo nem um "ah" de volta, decidiu ser mais explícito e, se bem que em voz baixa, disse: "Olhe, meu nome é Altair e eu notei que todo dia você toma este ônibus." Seu rosto encheu-se de uma nova esperança.
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