terça-feira, 28 de agosto de 2012
Boa noite
Se pensássemos na responsabilidade que há em desejar boa noite a alguém, talvez ficássemos calados. Deve-se desejar uma boa noite com a alma limpa, e quem há de ter uma? Deve-se desejar uma boa noite a alguém como se estivéssemos dizendo algo que tivesse ficado guardado muito tempo na alma, palpitando por ser dito. Não um boa-noite desses de raspão, um boa-noite extraído da garganta como um pigarro, um boa-noite aromatizado previamente com pastilhas Valda. Reluto em te dizer boa noite. Gostaria que dizer-te boa noite soasse como uma das poucas e indiscutíveis verdades da vida. Não vou dizê-lo. Tenho a alma impura, tenho desconfiança de mim, do que digo. Se eu te desejasse boa noite, acreditarias em mim? Quem há de acreditar em quem, como eu, tem tratado as palavras como se fossem vadias se virando na esquina por seis esfirras na promoção? Te direi boa noite quando boa noite puder soar como soa a um bebê quando pela primeira vez sua mãe lhe diz.
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