domingo, 28 de outubro de 2012
Escritor
Doente, febril, quase delirante, ele, madrugada a madrugada, continua a escrever seu primeiro romance, aquele com o qual espera não só modificar sua vida, mas justificá-la. Todo dia pensa em parar, porque no escritório já notaram suas olheiras e começaram a falar delas. Mas à noite, como se fosse um santo cumprindo seu inelutável martírio, volta a escrever, e escreve até que surja a manhã. Terminará o romance daqui a oito meses, quando estiver com doze quilos a menos e desempregado. Conseguirá abrir meio sorriso de triunfo, envelopará o original e o encaminhará a oito editoras. Esperará três meses, seis, um ano, dois. Ficará ligando, ligando. E, sempre que ligar, saberá que o editor está em uma bienal de literatura no exterior, em férias ou numa daquelas reuniões que começam na segunda e na sexta ainda não acabaram. Não é maltratado. Quem atende as ligações nas editoras é sempre gentil e, delicadamente, pergunta o nome dele antes de dizer que desculpe, mas o editor infelizmente...
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