terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Andando no rumo do amor
Andando no rumo do amor, sentimos a inclemência do sol e o escárnio de quem nos via com o bloquinho na mão, corrigindo sonetos. Tínhamos indicações vagas de onde poderíamos encontrá-lo. Para a nossa sede, dispúnhamos só do suor que nos descia da testa para os lábios. Andamos, andamos. Como podem ser cruéis os olhos de uma cidade quando se fixam naqueles que são viciados em amor. Mandaram-nos pegar uma enxada e capinar, fazer alguma coisa de útil para a sociedade. Continuamos andando. Chegamos, enfim, à morada do amor. Ele nos olhou, viu nossos olhos febris, a loucura dos nossos tormentos. Pediu que esperássemos um instante. Foi lá para dentro e, quando voltou, trazia um jarro. Pediu que abríssemos bem a boca. Nela despejou um líquido quente, salgado. "Bebe o meu ouro", gargalhou, enquanto nós tentávamos sorver tudo aquilo, para que nem uma gota sujasse o belo piso da morada do amor.
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