quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

No asilo

A maioria de nós pode vangloriar-se de controlar a mente. Foi um longo trabalho. Podemos nos dizer maduros, agora. Somos confiáveis. Jamais sequer pensaremos naquelas loucuras que faziam brilhar nossos olhos. Não sonhamos mais. Temos a vida toda sob o nosso domínio. Sabemos que a imensidão do mundo é algo em que as pessoas normais só pensam, no máximo, até os dezoito anos. Ir até o jardim e voltar nos basta. Tudo além do jardim e dos muros é uma ilusão. Andamos já bastante hoje, para quem usa bengala. Às nove nos servirão o chá. Às dez estaremos dormindo. Em cada um dos quartos, acima da cama, Nossa Senhora vela por nós. Amanhã, quinta, virá ler para nós aquela voluntária, a de pernas longas. A irmã não consegue fazê-la usar uma saia mais comprida. Talvez ela se sente ao meu lado. Na última vez, ela me encostou o seio no braço, este aqui, o esquerdo.

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