quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Um trecho de Zhang Xianliang

"Na primeira vez em que vi você, não fazia ideia de que nós dois seríamos amantes, ou melhor, que iríamos fazer amor.
   Ao me ajudar a retirar a bagagem, você parecia uma mulher casada e virtuosa, uma mãe cuidando de seu filho. Pensei comigo mesmo como seu marido e filho tinham sorte, mas ao mesmo tempo pensei: 'A mulher que eu esperava na Costa Oeste não veio, mas aqui na Costa Leste surgiu inesperadamente outra mulher.'
   Para onde quer que se vá há sempre uma mulher.
   Eu a segui empurrando o carrinho de bagagem, consciente da segurança com que você abria caminho na multidão. Você me apanhou como uma mosca e eu queria ser apanhado.
   Gostei do movimento dos seus quadris, do ritmo semelhante a um fluxo de água levando vida a tudo em sua volta. Sua bundinha tinha uma cadência que parecia mandar um recado, um apelo. Eu segui depressa, com medo de perder você. Só depois é que soube que nunca poderia perdê-la."

(De Acostumado a morrer, tradução de Vera Maria Whately, publicado pela Editora Best Seller.)

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