terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um trecho de Zhang Xianliang

"Só agora, ao escrever este livro, percebo que tratei você de forma injusta.
   Encontro a fotografia que tiraram de nós dois em frente à estátua de Kennedy, em Atlantic City. Uma gaivota está passando por trás, mas o som dos seus grasnidos já desapareceu. Ao olhar a fotografia, fico imaginando que tipo de sorriso devo lhe dar quando morre.
   Posso prometer dar um sorriso, mas, pensando bem, seria melhor não dar. Isso só iria lhe criar mais problemas - lembro-me de que você disse alguma coisa semelhante naquele dia.
   Naquele dia, na cama do hotel, com uma de minhas mãos entre seus seios, eu disse que não podia lhe deixar nada quando morresse a não ser um sorriso.
   - Diga para mim que tipo de sorriso você vai querer -, pedi. - Meu sorriso de morte é como uma bolsa de borracha; qualquer coisa que eu puser dentro cabe."

(De Acostumado a morrer, tradução de Vera Maria Whately, publicado pela Editora Best-Seller.)

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