"Lembro que antigamente eu amava minha mãe. Mas meu professor disse que eu não devia amá-la mais. Segundo as leis de análise de classes, ela pertencia à classe burocrática; não devia permitir-se gostar de um filho tão mau e tão vil como eu. Todos os crimes que vieram depois à minha cabeça foram resultado direto da alegria que ela teve ao me dar à luz. Assim, meu professor separou-me da mãe que eu amava. Então apaixonei-me pela primeira mulher que encontrei, mas o Grande Professor disse que ela devia "traçar uma linha clara" entre nós dois, pois segundo a análise eu pertencia à classe capitalista, e separou-me de uma mulher que me amava. Sem ninguém mais para amar, o professor declarou que eu devia amá-lo, que só ele era a grande estrela salvadora do céu, sem ele eu iria imediatamente para o inferno. E o melhor modo de amá-lo era encher o peito de ódio; o ódio tornou-se o padrão ético do novo mundo."
(Do romance Acostumado a morrer, tradução de Vera Maria Whately, publicado pela Editora Best Seller.)
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