sábado, 4 de janeiro de 2014
Vargas Llosa no "Estadão"
Um bom artigo de Llosa, hoje, sobre Guillermo Cabrera Infante. Poderia ser bem melhor, imagino, se ele ao escolher a face política e ideológica de Cabrera Infante não desse tão pouco espaço à única face que na verdade importa em um grande escritor: a literária. Infelizmente, Llosa continua obcecado com algo que já perdeu sua vez e seu charme: o embate direita-esquerda. São coisas menores no contexto da obra de Cabrera Infante, uma espécie de Joyce latino-americano, mago insuperável das palavras. A quem importará aprofundar-se na política para saber que pito tocaram ou tocam García Márquez, por exemplo, e o próprio Llosa? A mania, sempre em voga, de engajar artistas em movimentos sociopolíticos e achar que eles têm a obrigação de ser porta-vozes das transformações no seu tempo, é insuportável. O artista não tem obrigação nenhuma de ser panfletário. O melhor Gorki é aquele em que falta o pão e os personagens não ficam lançando essa desgraça à conta de ideologias. Estas são tão circunstanciais, num romance, quanto o protagonista ser viciado em jogo ou cocaína. Tolstói foi uma vítima dessa tendência e desse gosto pelo panfleto. Quando Anna Karênina morre, ele se estende ainda por mais dezenas de páginas para falar da procura de Deus por um personagem que qualquer estudante medíocre de literatura considerará, sem vacilar, secundário.
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