quarta-feira, 9 de julho de 2014

Diversão canina

Urinar no poeta já é o principal passatempo dos cachorros da rua. Toda noite esperam que ele, depois da sonetaria que declama diante da casa da amada, se ajeite em cima do jornal e durma. Eles, então, como se o poeta fosse o poste que sempre pediram a Deus, cobrem-no de mijo. Sempre sonhador, o poeta, quando acorda, julga ter sido banhado pelas lágrimas da bem-amada, e da roupa encharcada sente subir uma fragrância de rosas. Ninguém, talvez por pena, ou talvez porque essa quixotice agrade também aos homens e às mulheres do quarteirão, lhe conta que a amada há muito tempo está longe, levada por um marinheiro holandês que sabe tocar lindas canções em sua gaita de boca.

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