sexta-feira, 11 de julho de 2014

Um soneto de Bruno Tolentino

"Se é uma loucura confinar a vida
na armadura mental de uma equação,
mais grave ainda é sufocar com a mão
a boca soluçante da ferida.
  Que a dor, escandalosa e inconsentida,
sirva de último antídoto à ilusão,
à promessa falaz da perfeição,
essa paixão do ser pela medida.
  Há no número um jogo que seduz
para longe de tudo: a alma se nega
à agonia da carne, à flor de pus,
  e vai pintar, brincar com a noite cega...
Mas arte é redenção depois da entrega
à escuridão que vai roendo a luz."

(De O mundo como ideia, publicado pela Editora Globo.)

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