"Londres é cheia de garotas bonitas. Elas vêm de todo o mundo: como au pairs, como estudantes da língua, simplesmente como turistas. Usam o cabelo em forma de asas sobre as faces, sombra escura nos olhos; têm um ar de suave mistério. As mais bonitas são suecas altas, de pele cor de mel; mas as italianas, de olhos amendoados e miúdas, também têm seu encanto. O ato amoroso italiano, imagina, deve ser intenso e quente, bem diferente do sueco, que seria sorridente e langoroso. Mas será que um dia terá a chance de descobrir de fato? Se conseguisse juntar coragem para falar com uma dessas lindas estrangeiras, o que iria dizer? Seria mentira se se apresentasse como matemático e não apenas como programador de computadores? Será que as atenções de um matemático impressionariam uma garota da Europa, ou seria melhor dizer que, apesar do exterior sem graça, ele é poeta?
Leva um livro de poesia no bolso, às vezes Hölderlin, às vezes Rilke, às vezes Vallejo. No trem, tira ostensivamente do bolso o livro e se absorve nele. É um teste. Só uma garota excepcional apreciaria o que está lendo e reconheceria nele um espírito excepcional também. Mas nenhuma garota nos trens presta atenção nele. Isso parece ser uma das primeiras coisas que as garotas aprendem quando chegam à Inglaterra: não prestar atenção nos sinais dos homens."
(Do romance Juventude, traduzido por José Rubens Siqueira e publicado pela Companhia das Letras.)
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