Coisas estranhas vêm ocorrendo com o velho poeta. Hoje, em sua caminhada matinal diária, ele encontrou uma estrela. Era das pequenas, bem pequenas, dessas que às vezes, por distração das mães, se desprendem do céu e vêm parar numa rua de subúrbio. O poeta a apanhou com cuidado e, ao colocá-la no bolso da camisa, lembrou-se de que assim repetia um gesto de trinta ou quarenta anos antes, quando, no mesmo lugar, havia recolhido outra pequena estrela. Por um instante, ficou aturdido. O que tinha feito com ela? Ah, sim, recordava-se agora, estava guardada no mesmo estojo em que ficava o relógio, relíquia de família, dado por seu pai num aniversário muito longínquo. Era curioso aquilo: achar uma companheira para a estrela do estojo. Feliz, apressou-se a voltar para casa e, assim que chegou, foi pegar o estojo e o abriu. Dentro, só havia o relógio. Ele puxou então a estrela do bolso da camisa: "É você, é você. Eu devia ter desconfiado. Por que é que você estava fugindo? Ah, eu sei, pobrezinha. Eu a deixei trancada aqui todos esses anos. O que eu esperava que você fizesse?" Ele a beijou e a repôs no bolso: "A partir de hoje, você vai estar sempre comigo, onde eu estiver."
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