terça-feira, 10 de agosto de 2010
Lírica (397) - Platônico
Todas as noites, ficava diante da casa da amada. Sofria minuto a minuto, esperando pelo momento em que ela, decidindo dormir, vinha à janela, aspirava o ar da noite e apagava a luz. Por esse momento, por essa breve visão, às vezes ele aguardava duas horas, duas horas e meia. Inútil dizer que em determinadas noites ele padecia com o frio e a chuva, porque nem nevascas nem tempestades o afastariam dali. Era um caso singular. A amada nem desconfiava da existência dele, se bem que sua vigília já durasse meses e embora durante o dia ele sempre encontrasse um meio de estar perto de onde ela estivesse. Um dia se declararia, ele pensava, mas não se declarava nunca porque, quando se imaginava dentro daquele quarto cuja luz via apagar-se todas as noites, não sentia o clamor que excitava seus sentidos enquanto esperava do lado de fora.
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