sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Fragmento de diário
Chega a noite. É o tipo de frase que só a condescendência de um diário pode aceitar. Os diários tudo aceitam. Chega a noite. Escrevo isto porque me exauri tentando escrever coisas essenciais durante o dia, nenhuma das quais mudou ou mudará minha vida. Nada mais pode mudar minha vida. Minhas mensagens não têm mais destinatária. O tempo de mudar já passou. Então escrevo isto, escrevo que chega a noite sabendo que é uma coisa fútil, uma coisa que não diz nada e, no entanto, meu coração se alvoroça, talvez pela lembrança de um tempo em que chegar a noite era um acontecimento, porque havia a esperança de me alcançar um e-mail ou o nervoso toque de um celular. Chega a noite. Daqui a pouco dormirei, essa leve mas abençoada trégua depois da qual acordarei para, como todos os dias, dizer que chegou a manhã e perguntar: para quê?
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