"minha mãe me deu um rio. Era dia do meu aniversário e ela não sabia o que me presentear. (...)
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava do rio igual aos outros. A mãe prometeu que no aniversário do meu irmão ela daria uma árvore a ele. Uma árvore que fosse coberta de pássaros. (...)
Meu irmão me provocava assim: a minha árvore deu flores lindas em setembro. E o seu rio não dá flores! Eu respondia que a árvore dele não dava piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram os banhos nus no rio entre os pássaros. Nesse ponto nossa vida era um afago!"
Mais um belo presente, Patricia, digno de um domingo. Um rio, uma árvore, pássaros. Do jeito que o homem anda tratando rios, árvores e pássaros, logo os encontraremos apenas em poemas. E, quando as gerações futuras lerem esses poemas, talvez digam: "Rios, árvores, pássaros, que coisas mais antiquadas..." Às vezes, imagino que uma das maiores frustrações do homem seja a de não poder se atribuir a ele a extinção dos dinossauros. Se tivesse sido ele, ah, que odes, ah, que epopeias leríamos!
Sou um homem que ama a literatura e desde os 12 anos, quando li A Comédia Humana, de William Saroyan, tenta ser escritor. Tenho muitos livros publicados, mas quem diz se alguém é escritor são os leitores. Então, cada livro meu repete a pergunta: sou um escritor?
"minha mãe me deu um rio. Era dia do meu aniversário e ela não sabia o que me presentear. (...)
ResponderExcluirMeu irmão ficou magoado porque ele gostava do rio igual aos outros. A mãe prometeu que no aniversário do meu irmão ela daria uma árvore a ele. Uma árvore que fosse coberta de pássaros. (...)
Meu irmão me provocava assim: a minha árvore deu flores lindas em setembro. E o seu rio não dá flores! Eu respondia que a árvore dele não dava piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram os banhos nus no rio entre os pássaros. Nesse ponto nossa vida era um afago!"
(Manoel de Barros)
Mais um belo presente, Patricia, digno de um domingo. Um rio, uma árvore, pássaros. Do jeito que o homem anda tratando rios, árvores e pássaros, logo os encontraremos apenas em poemas. E, quando as gerações futuras lerem esses poemas, talvez digam: "Rios, árvores, pássaros, que coisas mais antiquadas..." Às vezes, imagino que uma das maiores frustrações do homem seja a de não poder se atribuir a ele a extinção dos dinossauros. Se tivesse sido ele, ah, que odes, ah, que epopeias leríamos!
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