quinta-feira, 28 de abril de 2011

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Na página 31 do romance, o protagonista, um rapazola de dezesseis anos, entraria no quarto da convidada de sua mãe - uma lânguida mulher de quarenta divorciada três vezes por suas tendências à libertinagem - e diria que estava ali pronto para se desincumbir do que ela, em linguagem arrebatada, insinuara no bilhete deixado no bolso de sua camisa, no jantar: fazê-la subir pelas paredes ao céu. Com a mão na porta entreaberta, o personagem sentia-se suficientemente capaz de entreter ardorosamente a mulher até pelo menos a página 34. Mas nesse instante o autor, julgando prematuro o encontro, resolveu deixá-lo para algumas páginas adiante. O protagonista, então, inseguro, voltou para seu quarto e mal conseguiu dormir, apesar da frustração e do fogo na virilha. No dia seguinte, ao retomar a redação do livro, o autor compensou o protagonista: a mãe e sua convidada saíram para compras no shopping e ele teve o prazer de tomar o café da manhã no quarto da empregada, não tão fogosa quanto a visitante se revelaria na página 90, mas duas décadas mais jovem.

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