quinta-feira, 14 de abril de 2011
Trecho de carta
Mando-te um abraço abatido, frouxo, triste, um abraço cheio de uma saudade que eu só poderia mandar assim, numa carta, um abraço ressentido contra as simplificações da internet. Um abraço decadentista, ultrapassado, um abraço de quem não aceitou nem foi aceito pela modernidade e que, voltando à caneta bic, ao papel e ao envelope, sabe que se expõe à chacota, como se fosse um troglodita urrando na esquina da Paulista com a Consolação ou um dinossauro pondo a correr os caminhantes no Parque do Ibirapuera.. Um abraço de quem não tem jeito para ficar dizendo que curtiu isso ou aquilo, um abraço de um ser que abomina as redes sociais e não precisa nem quer ter senão dois ou três amigos, de preferência um. Um abraço de quem sorri pouco mas quer saber para quem sorri, um abraço de quem quer olhar para quem sorri. Um abraço de quem, tendo procurado a vida inteira uma linguagem, não consegue aceitar essa que anda por aí, feita de coraçõezinhos desenhados, de rs, bjs e abçs. Um abraço de quem, se depender dos meios modernos, prefere morrer sozinho, com a barba enrolada nos pés. Um abraço de um cara triste, muito triste, que pretende contar essa tristeza para a pessoa certa, não para 380 ou para 420 desconhecidos virtuais. Alguém aí?
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