quarta-feira, 13 de abril de 2011
Por um pouco de antipatia
Mais fácil que gerar empatia ou simpatia é provocar antipatia - propósito declarado deste texto, que tem como alvo as redes sociais. Receio estar velho demais para entendê-las e também ranzinza demais para fazer qualquer esforço nesse sentido. Espanta-me, dinossauro que sou, a apatia que se revela nas correspondências trocadas entre os participantes desse notável instrumento atual. Se um deles conta um drama familiar ou uma desventura amorosa, dez minutos depois será possível ler o comentário: Fulano curtiu isso, Beltrano curtiu isso, Sicrano curtiu isso, e o rápido e vitorioso resumo estatístico do gestor do sistema: três pessoas curtiram isso. Chegamos a isso: uma comovente unanimidade de sentimentos, expressa pela palavra curtir. Curtir, como degustar - outro "progresso" que os novos tempos nos trouxeram - é a palavra-símbolo da modernidade. Curtimos tudo: fotos, textos tristes, crônicas alegres. O importante é cada um de nós se mostrar vivo diariamente. O essencial é todos saberem que podem continuar contando com nossa presença diária, naquele engodo que nos aplicamos: temos tantos amigos, e logo teremos o triplo, no mínimo. Dói-me a mim, dinossauro, tanto estudo, tantos aperfeiçoamentos de linguagem, tantas normas gramaticais, tantas leituras (presumivelmente feitas por todos nós) para afinal voltarmos a nos comunicar como no tempo em que o fazíamos com nossos tambores e nossa fumaça. Que seja tudo em nome da tecnologia. Eu, por mim, não curto porra nenhuma (expressão certamente do agrado dos que navegam pelas teias da rede) dessa merda toda (novos aplausos, por favor).
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