O SR. FULANO FALA DE SUA VIZINHANÇA
Vivo num prédio de cinco andares.
As janelas bocejam para a parede oposta
Como rostos olhando nos espelhos.
Em minha cidade há setenta linhas de ônibus
Atulhados pelo teto e cheios do fedor dos corpos.
Eles trabalham
Trabalham
E trabalham arduamente no coração da cidade:
Quase como se não pudesse alguém morrer de tédio
Logo aqui em minha vizinhança.
É bem pequena minha vizinhança.
Todavia, tem seus nascimentos, as suas mortes
E as coisas todas que acontecem no entremeio.
Em cada cidade igualmente existem
Mesmo crianças rodopiando um arco
E três cinemas.
Assim, se eu não achasse o tédio na minha própria casa suficiente
Eu frequentaria um dos cinemas.
Vivo num prédio de cinco andares.
A mulher que saltou pela janela oposta
Achou três suficientes.
(Traduzido por Zulmira Ribeiro Tavares, extraído da coletânea "Quatro mil anos de poesia", organizada por J. Guinsburg e publicada pela Editora Perspectiva.)
quinta-feira, 26 de julho de 2012
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