terça-feira, 31 de julho de 2012

Um poema de Bóris Pasternak

"HAMLET

O murmúrio cessou. Subo ao tablado.
Apoiado ao umbral da porta,
Procuro distinguir no eco apagado
Os desígnios de minha sorte.

A penumbra da noite me devassa
Por trás de mil binóculos iguais.
Se for possível, Aba, meu pai,
Afasta de mim essa taça.

Amo a Tua obstinada trama
E aceito o papel que me foi dado.
Mas agora representam outro drama.
Ao menos dessa vez, deixa-me de lado.

Mas a ordem das cenas foi prevista
E a estrada chega fatalmente ao fim.
Estou só. Tudo afunda em farisaísmo.
Viver não é passear por um jardim."

(Poema traduzido por Augusto de Campos, extraído do livro "Quatro mil anos de poesia", publicado pela Editora Perspectiva.)

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