sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Kama Sutra - XX
Assim que a mulher se sentou ao seu lado, ele sentiu no cotovelo uma perturbadora e exigente maciez. Habituado a recreações esporádicas no metrô, e conhecedor das regras do jogo, ele fez o teste preliminar. Afastou um pouco o cotovelo e viu confirmar-se sua primeira impressão: um instante depois, a maciez estava encostada outra vez nele. Encolheu o cotovelo, mais um ou dois centímetros, e a maciez novamente se achegou. Feito assim o primeiro lance, com o resultado previsto, ele, mais seguro, deixou o cotovelo espraiar-se e ir conquistando território. Tão permissiva estava agora a maciez que o cotovelo ia se acomodando mais intimamente a ela e sentindo-a cada vez mais. Como sempre, nessas ocasiões, ele não olhava nem de esguelha para a mulher. Tinha aprendido que essa era uma norma essencial: que os dois participantes do passatempo fingissem estar alheios um ao outro, como se tudo se passasse por acaso. Estava já bem no cálido âmago da maciez, pensando em seda e veludo, quando viu que a estação seguinte era a dele. Decepcionado e ao mesmo tempo sentindo certo alívio, porque sua perturbação devia estar visível, e não só no rubor do rosto, ele se levantou e só então olhou para a mulher. Ao lado dela, havia uma bolsa grande, cinza e elegante, cuja maciez o tinha excitado tão fortemente por três estações.
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