"A ARTE DA FABRICAÇÃO DO TRAVESSEIRO
minha terra tem paineiras
frondosas, filhas da puta
alérgicas a criança trepadeira
tão altos ramos para quê?
espinhudos, inúteis para os pés
só eles querem ver do alto
os tetos e mais tetos da cidade
minha terra tem paineiras
cor de maravilha, escandalosas
quando é tempo, chegamos perto
vingativos
e com paus, guerreiros em bando
vamos saquear seu algodão
coalhado de sementes
ó dura batalha
equilibrar as longas ripas
bater na paina
esperar a chuva branca
a marca da flecha, porém
esta ficou
foi travessão, agora é hífen no meu ventre
margens da carne que a saudade às vezes abre
e quando abre
jorra mel a cicatriz da infância."
(Do livro Notícias do lugar comum, publicado pela Editora 34.)
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