"NADA DUAS VEZES
Duas vezes nada acontece
nem acontecerá. E, asssim sendo,
nascemos sem prática
e sem rotina vamos morrendo.
Nesta escola que é o mundo,
mesmo os piores
nunca repetirão
nenhum inverno, nenhum verão.
Os dias não podem ser repetidos,
não há duas noites iguais,
não há beijos parecidos,
não se troca o mesmo olhar.
Ontem, o teu nome
em voz alta pronunciado
foi como se uma rosa
me tivessem atirado.
Hoje, ao teu lado,
voltei a cara para a parede.
Rosa? O que é uma rosa?
Será flor? Talvez rocha?
Por que tu, ó má hora,
me trazes a vã tristeza?
Se és, tens de passar.
Passarás - e daí a tua beleza.
Abraçados, enlevados,
tentaremos vencer a mágoa,
mesmo sendo diferentes
como duas gotas de água."
(Do livro Alguns gostam de poesia, publicado pela Cavalo de Ferro, Lisboa.)
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