sexta-feira, 24 de maio de 2013

Dois poemas de Pernette du Guillet

"Para agradar a quem só me atormenta ,
Não quero achar remédio ao meu tormento:
Por ver na minha dor o seu contento,
Contente estou com seu contentamento."

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"Acuso-me bem claro nesta décima
De tuas virtudes não honrar à altura,
Fora o querer que é uma desculpa péssima:
Mas quem pudera ornar pela escritura
O que, de fé, se leva a adorar?
Não digo, se tivesse teu poder,
Que quitar-me não fosse o meu dever,
Do querer-bem que, ao menos, dizes ter.
Empresta-me esse teu saber sem par
Para como me louvas te eu louvar." (*)

(*) Curiosa (e engenhosa) a solução que o tradutor, Mário Laranjeira, encontrou para, no verso indicado, manter a estrutura do poema, toda em decassílabos. Se, ao invés de "te eu" ele recorresse à forma direta "eu te", teríamos um verso de onze sílabas, um hendecassílabo. Por essa e muitas outras peculiaridades se diz que traduzir poesia é criar poesia. Os dois textos foram extraídos de Poetas franceses da Renascença, publicado pela Martins Fontes, precioso livro do qual pretendo reproduzir outros poemas.

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