quarta-feira, 29 de maio de 2013
O maniqueísmo em Singer
A extensa e brilhante obra de Isaac Bashevis Singer, pela qual ele recebeu o Nobel de Literatura, narra o embate contínuo e feroz entre o bem e o mal. Praticamente não há meios-tons. O mal é o mal, o bem é o bem, e parágrafo a parágrafo eles se confrontam. Essa é a tônica de talvez 80% do que Singer escreveu: o mal e o bem em estado bruto numa luta sem trégua para possuir o homem e submetê-lo. Nos contos e romances passados em aldeias, os personagens quase não têm identidade, são manipulados pelas duas grandes forças. Nas histórias urbanas, Singer já se permite nuançar os protagonistas e os dota de livre-arbítrio. Eles já não são simples porta-vozes do bem e do mal, e alguns, os mais hábeis, conseguem servir-se de um e do outro conforme seus desígnios. Essa "modernização" se observa especialmente no notável Sombras sobre o rio Hudson, traduzido por Paulo Henriques Britto e publicado pela Companhia das Letras, em que os judeus, não mais aldeões supersticiosos, mas cidadãos de Nova York, lidam com o bem e o mal nem tanto com o auxílio de rabinos, mas de psicanalistas e psiquiatras.
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