segunda-feira, 13 de maio de 2013

Não se iludam

Os últimos dias de vida não são tristes. Triste é um filme, um livro, uma contrariedade, uma ligação que não se recebeu. A palavra triste é cotidiana demais para ser aplicada aos dias em que você, já morto, precisa andar mais um pedaço de caminho, como se estivesse fazendo uma prova final para merecer o título. Nos últimos passos há o que há nos primeiros, nos segundos e nos quadringentésimos bilionésimos terceiros. Há árvores, flores, frutos, talvez até um simpático cachorrinho que imagine ser possível, ainda, afagarmos seu pelo. Não podemos tocar nada, mais. Em nossas mãos já se espalhou o frio da morte e, se tocarmos uma árvore, uma flor, um fruto, será como se a geada os fulminasse. Se tocarmos o cachorro, seu pelo imediatamente cairá. Felizmente, os amigos já se afastaram, todos, e os passarinhos estão, como sempre, fora de nosso alcance.

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