sábado, 4 de maio de 2013

Passei o dia...

... pensando em alguma coisa com que conseguisse te encantar de madrugada. Alguma coisa que pudesse ser mesmo bela, que fosse tão inacreditavelmente bela que, ao vê-la, todos soubessem imediatamente que só para ti ela poderia ter nascido. Uma flor, uma frase ou um poema que no futuro fossem conhecidos como a tua flor, a tua frase, o teu poema. Fiquei pensando nisso com um fervor quase místico. Nisso que eu buscava para te oferecer estaria enfim decifrada a linguagem apaixonada mas obscura do coração, e as palavras dessa linguagem seriam límpidas como a superfície de um lago de sonho iluminado pela lua. Haveria no lago um casal de cisnes que, roçando com os bicos a água, comporiam uma sinfonia, a tua sinfonia. As árvores, ansiosas para ouvi-la, pediriam ao vento que se abstivesse de tocar sequer uma de suas folhas. Tudo aos poucos adormeceria, como se nada existisse e tudo estivesse à espera do primeiro dia da Criação. Tu acreditarias em mim, afinal, e me dirias algo bem simples, que eu receberia como uma ode. Parece possível criar esse cenário e, por seres tu quem o inspira, eu me consideraria capaz, se já tantas vezes não me tivesse mostrado indigno. Trabalho, entretanto, continuo trabalhando, com aquela febre extática. Que a madrugada tarde, que contrarie a urgência e o anseio que tenho de falar-te, mas que me dê tempo para chegar a ti com algo que, estando na tua mão, seja o melhor de mim e, sendo insuperável,  me isente de futuros cansaços.

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