quarta-feira, 15 de maio de 2013

Priscylla (1)

Conheci Priscylla Mariuszka Moskevitch numa dessas manhãs traiçoeiras que nada parecem ter de incomum e no entanto planejam fixar-se em nossa memória assim como cravos no corpo dos mártires. Ela era ainda só uma mulher bela e sem nome para mim, quando a vi numa galeria da Consolação. O acaso - que numa narrativa convém designar mais adequadamente como destino - nos colocou dali a dois minutos procurando numa estante de livraria um autor do qual nos declaramos admiradores e, depois de uma conversa rápida sobre ele e suas obras, nos levou a uma mesinha de café. Foi então que ela me disse o nome: Priscylla. "Bonito", elogiei. Ela explicou: era com "s", "c", "y" e "l" dobrado. Em seguida, me revelou o outro nome, na verdade auxiliar do primeiro (Mariuszka), e o sobrenome (Moskevitch), que evidentemente soletrou também. Eu arrisquei, sabendo ter noventa e nove por cento de chances de acertar: "Russo?" Ela sorriu. Era. Eu lhe disse o meu nome, sem esperança de espantá-la com o sobrenome. "Polonês", completei. Tomamos café com pãezinhos de queijo e depois saímos andando pela galeria. Nosso único ponto em comum, até aí, era termos uma salada de consoantes nos sobrenomes e o amor confessado por Philip Roth. Havia sol quando saímos para a Paulista, ou talvez chovesse, porque eu estava atento só a ela, sentindo que algo dentro de mim se alvoroçava. Não era, ainda, a comoção que os meses seguintes trariam, mas já havia uma coisa dessas que um homem não esquece jamais e que eu, neste meu tempo final de vida, coloco entre aquelas lembranças que não posso omitir do meu inventário sentimental. Eu as relatarei, todas. Por enquanto, ficarei com a imagem de Priscylla despedindo-se de mim. Desci a escadaria do metrô olhando para trás e me sentia como alguém que toma um rumo oposto àquele que pretende seguir. Queria voltar para o sol, queria voltar para Priscylla. O curso que a história seguiu é algo que espero poder contar, ainda, mas pouco a pouco, porque sei que o relato irá me pôr, episódio por episódio, à beira das lágrimas.

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