sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pryscilla (4)

Desde o início, associei Priscylla Mariuszka Moskevitch à ideia de beleza. Foi algo intuitivo, sem nenhum traço de premeditação, uma obra dos sentidos e talvez de um pouco de imaginação. A razão não esteve presente. Posso dizer isso porque a percepção da beleza, em mim, prescindiu sempre da racionalidade. Jamais achei adequado julgar a beleza pelo prisma da razão. A beleza é ou não é. Querer saber por que ela é, submetê-la a uma análise, me parece quase torpe, quando se trata da beleza que pode ser suscitada por um ser humano, especialmente por uma mulher. Essas considerações eu as faço agora. Não me ocorreram na ocasião em que que conheci Priscylla. Também levei algum tempo para relacionar Priscylla com meu súbito retorno à poesia, depois de décadas de uma indiferença que se assemelhava já a um rompimento definitivo. Quando dei conta de mim, estava lendo compulsivamente poemas, só poemas, e tentando recuperar velhos ritmos, cadências e rimas. A poesia, que na minha adolescência tinha parecido a mais apropriada linguagem para a beleza, estava voltando a ter esse papel. E, como antes, ao prazer da leitura coube compensar os fracassos da criação instigada pela beleza redescoberta. Às vezes me vem a ideia de que Priscylla pode ter sido uma artimanha da poesia para se reaproximar de mim. E outras vezes imagino, com antipatia, soberba e culpa, que ela foi, na verdade, um pretexto meu para me reencontrar com a beleza e a poesia. Há quem duvide da existência de Priscylla. Pode alguém chamar-se Priscylla Mariuszka Moskevitch? Um amigo me perguntou hoje se ela não seria produto de um estado mental que, para não definir como insanidade, ele chamou de distúrbio. Eu lhe respondi que esse "distúrbio" tem outro nome para mim, bem mais agradável, e que Priscylla seria sua abençoada causa, não seu indesejável efeito.

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