quinta-feira, 9 de maio de 2013

Três trechos de Janet Malcolm

"A vida, é claro, jamais captura toda a atenção de alguém. A morte é sempre interessante e nos atrai. Assim como o sono é necessário à nossa fisiologia, a depressão parece ser necessária à nossa economia psíquica. De alguma forma secreta, Tânatos, além de se opor a Eros, também o nutre. Os dois princípios atuam em oculta harmonia; embora Eros predomine na maioria de nós, em ninguém Tânatos está totalmente subjugado. No entanto - e é esse o paradoxo do suicídio - tirar a própria vida é comportar-se de um modo mais ativo, afirmativo, "erótico", do que ficar assistindo passivamente enquanto nossa vida nos é tirada pela mortalidade inevitável. O suicídio, assim, mobiliza tanto nossa parte que odeia a morte quanto a que a ama: em algum nível, talvez sintamos pelos suicidas uma inveja equivalente à piedade que eles nos inspiram."

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"Todos nós inventamos a nós mesmos, mas alguns acreditam mais que os outros na ficção de que somos interessantes. Provavelmente por sentir o gelo do vazio com uma intensidade tão inquietante, Sylvia Plath era levada a empilhar várias camadas de aquecida autoabsorção entre si e o mundo exterior."

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"Seu esforço (de Ted Hughes) para desenredar sua vida da lenda de Sylvia Plath ao mesmo tempo em que alimenta a sua chama é uma espécie de alegoria grotesca do esforço que todo artista faz a fim de recolher para si um pouco de vida normal em meio à calamidade de sua vocação."

(Do livro A mulher calada, tradução deSergio Flaksman, publicado pela Companhia de Bolso.)

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