"VIOLINO MARIA
De noite
enquanto as aves constroem dentro de suas chinelas
os ninhos da intimidade
Direi a meu escravo que relate minhas façanhas
E quando pelos cantos se amontoarem as breves
alegrias dos arrebatamentos
E cair sobre nós o incessante moinho da borrasca
Vai reclinar-se sobre meu ombro com o cálido peso
de suas asas em chamas
As curvas de seus tornozelos revelarão a nova
geometria da beleza
E cravando em minha carne um a um os sombrios
mistérios da cabala
Acariciando meus gemidos com o fio encaracolado
da voluptuosidade (*)
Fará sentir-me tão pequenino
que só poderei amá-la aos pouquinhos."
(Do livro Poesia argentina 1940-1960, publicado pela Iluminuras.)
(*) Notável passagem de erotismo: os gemidos, o fio encaracolado, a voluptuosidade. Toda uma cena composta com tão poucas palavras, sem "apelações". Para o leitor que me perguntava sobre a diferença entre erotismo e pornografia, creio ser este um bom exemplo do que é o primeiro. O erotismo sugere, a pornografia narra.
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