"A TARDE E SEUS POMBOS
Bela é a tarde com seus pombos
inquietos. Ordenadas aves que se conjugam
no sentimento da fome e do recolhimento.
Aqui, tudo se resume no calmo
retorno ao aroma doméstico.
Fomos feitos para que a brisa
nos surpreenda assim, sorrindo sem motivo:
somos afeitos a essa inocente alegria.
A tarde lava nossas dores e crimes
e de palmas limpas acolhemos a noite.
Tudo, como nos primitivos tempos.
Apenas o cansaço é que nos pesa
não em demasia mas nos tolhe um pouco
a voz, para o possível canto."
(Do livro A manhã e seus deuses, publicado pelo Clube de Poesia.)
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