"Eu a vi ir-se alta e fina e branca na noite, caminhando pela calçada da embaixada suíça com seu passo rápido, gentil, indo para a rua C a caminho da Línea, com uma pontualidade e um sentido do dever que sempre me comoviam, ao teatro. Agora atuaria, já bem entrada na peça, em dois indiferentes papéis diferentes (método genial de um diretor importado, chamado de Inmondi, que este havia copiado do Berliner Ensemble) em um medíocre opus de Bertolt Brecht em que se supunha que não se deveria olhar, mas sim venerar como se fosse um mistério medieval. (E o que me diz que não é deveras um auto sacramental?) Mas não é de Brecht que quero falar (porque posso falar muito de Brecht, esse odioso personagem brechtiano, que disse 'Ser imparcial não significa, em arte, senão pertencer ao partido que detém o poder', ele, Bertolt Brecht, precisamente, disse isso), não é desse Shakespeare dos sindicatos que quero falar, mas sim dela que deve estar caminhando agora pela calçada de El Jardín indo fazer aqueles pobres exercícios de propaganda como se fossem Cordélia e fröken Julie, siamesas de um monstruoso único papel."
(De Delito por dançar o chá-chá-chá, tradução de Floriano Martins, publicado pela Ediouro.)
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