DALTON TREVISAN – Em Dalton Trevisan, o fetiche sexual pode estar num dente de ouro, num olho vesgo ou na marca deixada no rosto por um cravo mal espremido.
TCHEKHOV (1) – O jovem que pretende escrever contos deve ler os melhores do gênero e Tchekhov. Ou então ler só Tchekhov.
TCHEKHOV (2) – Em Tchekhov tudo é tão natural que, se um cachorro se puser a discutir filosofia não soará estranho, mesmo que esteja debatendo com um cavalo.
CASIMIRO DE ABREU (1) – Pode parecer tolo, mas eu, se amasse alguém, lhe daria o livro de Casimiro de Abreu.
CASIMIRO DE ABREU (2) – Queriam que Casimiro de Abreu fosse caixa de loja – ele que não dava conta nem do amor que tinha no peito.
LOURENÇO DIAFÉRIA – Não sei se já há em São Paulo uma rua que homenageie o cronista Lourenço Diaféria. Se há, é pouco. Uma avenida? Pouco também. E também pouco um viaduto. O Brás deveria chamar-se Lourenço Diaféria. Até o Brás sabe disso. É só ir lá e perguntar a ele.
MARCOS REY e EÇA DE QUEIRÓS – Num dos romances de Marcos Rey, Entre sem bater, há um homem que, depois de muito ansiar, conquista a mulher que deseja. O primeiro pedido que faz a ela é uma xícara de café. José Matias, outro personagem, este de Eça de Queirós, torna-se uma sombra da mulher amada, mas nunca se declara. Ela se casa, se descasa, vai se casando e descasando, e ele, nos intervalos, reaparece. Só nos intervalos. Mas continua não se declarando. Há homens assim, audazes só na imaginação e no pensamento. São capazes de consumir anos em torno de uma mulher, como satélites, e receiam pedir-lhe uma coisa simples, uma bobagem qualquer, como a companhia em um almoço ou um café.
WISLAWA SZYMBORSKA – As epopeias de Wislawa Szymborska não precisavam de campos extensos, de imensos territórios, e seus participantes poderiam ser um tapete, um filete de sol, um gato espreguiçando-se no sofá. Sua poesia nunca exigiu nada mais grandioso que isso. Coisas como um bocejo do gato ou a audácia do voo de uma mosca da persiana para a mesa da sala, sobre uma perigosa jarra de água, davam à cena o tom épico.
MARIANA IANELLI – Escrever é um dom que Mariana Ianelli e mais alguns poucos têm.
UM DOS TRÊS – Convidaram-no a ser um escritor-fantasma, e ele, pondo-se à disposição, disse que três eram suas especialidades: Dante, Cervantes e Shakespeare.
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