terça-feira, 10 de março de 2020

Sobre a beleza parcimoniosa

Quem escreve aforismos ou epigramas e não se chama Millôr Fernandes nem tem seu brilho dificilmente verá publicado um livro seu. Por melhores que sejam seus textos, se forem empilhados em cem ou cento e vinte páginas já não se destacarão tanto a partir da décima ou décima primeira. Uma solução é dividi-los em partes reunidas sob títulos chamativos (amor, ódio, arte, canibais). Fora disso, o autor deve satisfazer-se em vê-los picados, no varejo, em jornais ou revistas. Marguerite Yourcenar, em observações feitas a propósito das vantagens dos romances, aponta esta: por sua extensão,eles fazem a beleza (comparada ao sumo das frutas) sobressair em contraste com as partes menos apreciáveis, denominadas por ela de bagaço.  Uma beleza intensa todo o tempo acaba, ainda que isto soe estranho, por se tornar monótona ou pedante.

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