sábado, 4 de dezembro de 2010
Situações (176) - A coleira
Com medo de perder seu amor, ela o levava pela coleira aonde fosse. Viveu anos assim, de cuidado extremo, sem sequer um instante para ver onde estava ou que caminho percorria. O amor era sua paisagem e sua geografia. Um dia - sempre há esse dia -, a coleira se rompeu e, depois de meses de busca desesperada, ouvindo as súplicas do coração para que se matasse, ela se encontrou num parque, sob uma árvore. Foi aos poucos reconhecendo que passeara algumas vezes ali, com seu amor. Estava olhando com encanto para um gramado de verde juvenil quando o viu se aproximar. Vinha feliz, como se quisesse mostrar ao mundo sua nova dona e a coleira, mais brilhante do que a antiga. Ao vê-lo desaparecer no fim da alameda principal, ela suspirou longamente e notou novas flores, um escorregador que arrancava gritos de júbilo dos meninos, três meninas tentando alcançar o céu com suas balanças e, sobre essa alegria toda, o sol de verão. Lembrou-se da coleira rompida e foi arrebatada por um alívio que era mais do que uma felicidade. Tinha acabado de descobrir quem, naquele distante dia, havia se libertado.
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